Cancele seu Netflix

Para os que não sabem, o Netflix promove neste Natal uma sátira sacrílega do grupo Porta dos Fundos, provando, mais uma vez, desconhecer os limites entre a comédia e a regra moral que deve nortear todos os nossos atos.

Brincar com a religião dos outros é fácil. Difícil é brincar com a própria religião. No caso do Porta dos Fundos, engraçado seria vê-los fazer humor com a “sagrada família” deles, os Lula da Silva. O noticiário recente sobre a famiglia tem oferecido material suficiente para uma paródia da série Os Sopranos, por exemplo. Fica a sugestão.

O argumento da “liberdade de expressão” não cola. Ninguém imaginaria fazer piada com o Holocausto ou com a escravidão africana nas Américas, satirizando o extermínio dos judeus ou a vida nas senzalas ou nos navios negreiros. Há coisas que são, e devem ser, graves demais para virar comédia.

Se o grupo de bobalhões ficasse confinado em seu canal no YouTube, não haveria muito a fazer, fora as vias judiciais. O YouTube é uma plataforma aberta e gratuita que exibe todo tipo de conteúdo, de palestras sofisticadas a tutoriais de manutenção de geladeiras velhas. Não há seleção prévia, a não ser algumas regras genéricas de conteúdo, que são particularmente austeras quanto à sensibilidade de certos grupos.

Mas à parte a denúncia a posteriori de conteúdos considerados ofensivos – e que serão depois avaliados por examinadores da plataforma que decidirão se o conteúdo sairá ou não do ar – não há muito o que se fazer. Mesmo os anunciantes que aparecem em intervalos regulares durante a transmissão dos vídeos seguem uma ordem aleatória, e se fosse o caso de tentar boicotá-los, seria preciso assistir o conteúdo diversas vezes. A emenda seria pior do que o soneto. A solução, portanto, é ignorá-los.

O caso do Netflix é diferente. Lá os conteúdos são selecionados. Ao optar por exibir um determinado conteúdo, a plataforma confere sua chancela à obra e, direta ou indiretamente, a financia.

Portanto, não há escusa: ao escolher exibir a paródia do Porta dos Fundos, o Netflix ofende seus assinantes católicos, bem como qualquer um com um mínimo de refinamento ético ou estético.

Só resta aos católicos o cancelamento de sua assinatura do Netflix.

Não será nenhum sacrifício: há outras opções no mercado até mais em conta. E, apesar de ser improvável, diante dos graves exemplos de material imoral promovidos anteriormente, havendo uma retratação da empresa, um retorno poderia ser considerado.

Mas, por ora, não cancelar seria um ato de pusilanimidade inaceitável.

O cancelamento da conta do Netflix é um ato pedagógico e, quem sabe até, misericordioso. Mas certamente será divertido. Ateus não acreditam em alma. Mas acreditam em conta bancária. A consciência nunca lhes dói, mas o bolso é seu órgão mais sensível.

Quanto a nós, que sabemos o quanto somos espirituais e devedores da graça da Redenção, pela Cruz de Nosso senhor Jesus Cristo, tenhamos nossas consciências católicas em paz pela defesa da honra de Nosso Senhor Jesus Cristo e de sua Santa Igreja.

Bolívia: por Deus e pela Pátria

[Nota da Permanência: o texto seguinte foi originalmente publicado em FSSPX News]

Após a queda e a fuga do presidente da república boliviana, Evo Morales, uma católica de direita, Jeanine Añez, detém temporariamente as rédeas do estado, com a missão de pacificar um país arruinado por vários anos socialismo e de organizar novas eleições.

Depois de várias semanas do caos provocado pelas revelações de fraude maciça nas eleições presidenciais de 20 de outubro de 2019, o chefe de Estado fugiu em 11 de novembro para o México. Abandonado pelo Exército, o ditador que ocupava o poder desde 2006 denuncia agora “o golpe mais astuto e ousado da História”.

Por enquanto, Jeanine Añez, segunda vice-presidente do Senado, e católica de direita, atua como presidente da república após a renúncia do presidente e do vice-presidente, em conformidade com a constituição boliviana.

Esta advogada de 52 anos, opositora de Evo Morales, atravessou as portas do palácio presidencial no dia 12 de novembro, brandindo os quatro evangelhos e declarando perante a mídia: “Deus permitiu que a Bíblia voltasse ao palácio. Que Ele nos abençoe!” Não se trata de um gesto banal.

Por Deus e pela Pátria

De fato, Evo Morales pretendia fazer do país, na sua maioria católico, um estado socialista e secular. Para tanto, adotou uma nova constituição em 2009 e pôs fim ao juramento de autoridades e oficiais do governo, que anteriormente juravam sobre a Bíblia que haveriam de desempenhar seus deveres “por Deus e pela Pátria”.

Após a abolição do juramento, e sem jamais desviar-se do seu objetivo, o ex-presidente alegou que a Igreja na Bolívia era “a principal inimiga das reformas e transformações políticas”, chegando ao ponto de dizer que o catolicismo mantinha uma “mentalidade colonial”. Tratava-se de um artifício para exacerbar as tensões e dividir o povo, incitando os índios contra “a oligarquia branca e a herança colonial” que os marxistas querem associar ao catolicismo.

Catherine Delfour, acadêmica especializada em Bolívia, citada pelo jornal La Croix, explica que o gesto de Jeanine Añez constitui para a classe média boliviana “um símbolo de apaziguamento após dias de tensão, em que a polícia havia desaparecido das ruas (…) É um símbolo de unificação que clama pela conciliação nacional”.

A presidente anunciou em 17 de novembro que brevemente serão realizadas eleições livres. Enquanto isso, o presidente deposto ainda quer acreditar no fim do capitalismo. Desde seu exílio forçado, promete: “Voltarei em breve com mais força e energia”. Que ele conserte acima de tudo suas falhas e entenda que não há verdadeira harmonia sem o reino de Cristo e sua Igreja!

O fim de mais uma ilusão comunista

Joaquim Torres Garcia, 1941

O fim do bolivarismo significa o fim do projeto da Pátria Grande que pensava unir a América espanhola à América portuguesa. Isto é, pensava unir uma dúzia de países que jamais se entenderam com o quarto maior país do mundo.

Não é só a língua que nos separa dos nossos vizinhos espanhóis, mas um sentido de unidade herdado dos portugueses que eles dão mostras de ainda não ser capazes sequer de entender, o que dirá de reproduzir.

O projeto de uma América do Sul virada de cabeça para baixo não tinha nem pé nem cabeça. Mas é um bom exemplo do profundo desprezo dos comunistas pela História que fingem cultuar como uma entidade sobrenatural. Ao subordinar a realidade a conceitos idealizados criam o paradoxo de um materialismo espectral, ironicamente já anunciado como tal logo nas primeiras linhas do Manifesto Comunista de 1848: “Um espectro ronda a Europa…” Sim, um espectro, essa coisa descarnada que não pertence à realidade dos vivos. O comunismo já nasceu morto e mais não tem feito senão espalhar a morte.

No caso das Américas portuguesa e espanhola, como deixou claro o Luiz Ramiro no post anterior, os comunistas ignoram o espírito de duas nações para privilegiar o fantasma da luta de classes. O Brasil herdou dos portugueses um senso de unidade consubstanciado numa língua que é um fenômeno único: nunca na história humana existiu uma território contínuo tão vasto em que se falasse só uma língua e apenas uma. Isso não é pouco. Não tomamos territórios de ninguém. Trouxemos uma língua – voluptuosa, complexa, caprichosa. O imenso Brasil espelha o pequenino Portugal, a mais antiga nação européia, um exemplo de unidade em um continente cravejado de federações que passam por países. A Espanha é só um exemplo, talvez o mais veemente.

É o que a Espanha é: uma federação. Uma federação de nações que ainda hoje relutam em se entender. Como os países da América espanhola.

Enfim, a América espanhola é nossa vizinha, mas nossa vocação é atlântica. Somos o país com a maior costa contínua e dominamos o Atlântico Sul. Os povos que nos formaram ou são nativos ou vieram da Europa atlântica ou da África atlântica. Raízes oceânicas, por assim dizer. Um patrimônio que mal começamos a conhecer e explorar. Portugal, Angola e Brasil formam no mapa um triângulo a sinalizar nosso destino mais genuíno. Não se trata de desfazer os laços construídos com nossos vizinhos, mas de dar a eles o seu devido valor histórico e mesmo espiritual, para além da inegável sinergia econômica que nos une.

Livres de mais uma ilusão comunista, está na hora de nos voltarmos para o Atlântico.

O abismo que nos separa dos vizinhos

Chile: na América espanhola, o conflito sempre acaba por prevalecer sobre o consenso.

O que marca a fundação do Brasil: o consenso ou o conflito? O que marca a nossa origem como nação: a tradição, que une o antigo e o novo, ou a guerra?

As sociedades podem ser forjadas a partir daquilo que se chama uma “teoria do consensus” ou a partir de uma “teoria do conflito”. O consensus tem uma raiz no pensamento do jesuíta Francisco Suárez, que escreveu sobre o assunto em De Legibus ac Deo Legislatore (1601-1603). Para Suárez, só há um poder de instituição divina, o Papado. Já o rei é aquele que recebe de Deus o poder por intermédio do povo – e daí viria a noção de consensus como fator de legitimação do poder real. A legitimidade do poder está associada a um assentimento do povo, não de modo dissociado, mas num consórcio entre direito e comunhão de utilidades naturais.

CONTINUAR LENDO…

Breve relato sobre o Chile

Recebemos do Chile o texto seguinte, que tenta explicar as causas dos acontecimentos recentes. O autor é Augusto Merino, renomado professor de ciência política do país, e católico tradicionalista. A tradução do artigo é nossa.

Os jovens foram o instrumento da esquerda latino-americana para conduzir o Chile ao caos.

Para resumir com máxima concisão o que está acontecendo no país, diremos que se trata de um triunfo da esquerda internacional, que avança com sua agenda de ruptura contra a cultura cristã ocidental. O recente acordo firmado por todas as forças políticas no sentido de elaborar uma nova constituição política a partir do zero, sem considerações pelos valores contidos na atual constituição, é o testemunho mais eloquente disso. Nenhuma das demandas socioeconômicas dos cidadãos foi atendida e, no entanto, tornou-se impossível dar um passo atrás para proteger os princípios cristãos que, embora de maneira débil, até hoje constituíam o fundamento moral do Chile.


Para explicar os acontecimentos do mês passado é preciso um certo distanciamento: o que aconteceu não foi um simples “surto”, nem mesmo uma “convulsão popular de caráter econômico-social”, ainda que tenha sido apresentado amiúde com esses nomes, e que o aumento do preço do metrô tendo servido de gatilho.

CONTINUAR LENDO…

Quem se importa?

Chile: o rastro inconfundível da esquerda

No Chile, “protestos” que a grande mídia afirma serem pacíficos já resultaram no incêndio de pelo menos dez igrejas, incluída aí a Catedral de Valparaíso e igrejas históricas como a dos Sacramentinos. Os vândalos arrastaram imagens sagradas e crucifixos para fora das igrejas e os despedaçaram contra o asfalto.

Esses saques, profanações e destruições se repetem há semanas, com a regularidade enfadonha de uma norma.

— Mas quem se importa?

Padre Hovsep Bedoyan: assassinado


Nos últimos dias, um grupo de muçulmanos destruiu uma igreja no Paquistão sob o olhar complacente da polícia; um grupo invadiu uma igreja nos Estados Unidos para destruir o que pudesse e roubar o tabernáculo; na província de Saragoça, Espanha, invasores incendiaram a imagem de Nosso Senhor no interior de uma igreja. E na Síria, o padre Hovsep Bedoyan foi assassinado por terroristas islâmicos.

— Mas quem se importa?

Da França, notícias de roubos e profanações de igrejas nos chegam diariamente:

  • 12 de outubro: uma estátua de Nossa Senhora foi roubada apenas para ser reencontrada aos pedaços em Saint-Laurent-de-Cuves (Manche).
  • 13 de outubro: pichação da entrada da Igreja Saint-Jean-de-Montierneuf (Poitiers).
  • 14 de outubro: roubo do tabernáculo contendo o cibório com as Santas Espécies da Igreja Saint-Augustin de Renazé (Mayenne).
  • 18 de outubro: 80 túmulos foram profanados no cemitério de Binic (Côtes-d’Armor).
  • 21 de outubro: uma réplica da gruta de Lourdes foi vandalizada em Freyming-Merlebach (Moselle).
  • 21 de outubro: missa na Basília Saint-Epvre, Nancy, interrompida por um sujeito que gritava “Allahu Akbar”.
  • 21 de outubro: roubos na Igreja Notre-Dame-de-Prospérité de Clermont-Ferrand.
  • 23 de outubro: o cruzeiro que ficava na entrada da cidade de Vico foi incendiado (Corse-du-Sud).
Igreja vandalizada no Chile
  • 25 de outubro: os muros da Igreja de Fourones foram pichados (Yonne).
  • 31 de outubro: um grupo de 75 pessoas invadiu a Capela Sainte-Barbe em Plouaret para celebrar o Halloween (Côtes-d’Armor).
  • 1º de novembro: vandalismo e profanação na Igreja Saint-Vaast de Béthune (Nord)
  • 3 de novembro: a estátua de Santa Bernadete foi decapitada no eremitério Saint-Joseph d’Oberhaslach (Bas-Rhin).
  • 4 de novembro: assassinato do Padre Roger Matassoli em Agnetz (Oise).
  • 4 de novembro: roubo dos vasos sacros e prataria na Catedral de Oloron-Sainte-Marie (Pyrénées-Atlantiques).
  • 4 de novembro: roubo na Igreja Notre-Dame-de-Bon-Secours de Pontet (Vaucluse).
  • 5 de novembro: um quadro representando Luís XIII venerando as relíquias da Paixão foi atacado na Igreja Notre-Dame de Carentan (Manche)
  • 9 de novembro: Igreja da Missão da Cruz Vermelha vandalizada em Marselha.

Mas, aparentemente, ninguém se importa.