Portugal ao sabor da corrente

Como é sabido, o actual governo português conta com a efusiva simpatia da generalidade dos meios de comunicação. Há pouco reeleito para um segundo mandato de quatro anos, o executivo socialista do Sr. António Costa é apontado como um exemplo nas finanças públicas e na economia, responsável pelo “caso de sucesso” que é Portugal.

Ora qualquer pessoa bem formada e minimamente informada deve – ou deveria – suspeitar quando os media entoam loas à obra de socialistas, especialmente quando coadjuvados por um partido comunista de orientação estalinista e por um “bloco de esquerda” troskista.

Guardadas as devidas proporções, diríamos que o Sr. Costa está a gozar de um bocadinho do estatuto de enfant gâté da alta-finança cosmopolita, título com o qual “reinou” incontestável durante tantos anos o agora recluso Sr. Luís Inácio da Silva.

Se é de lamentar que para o homem dos nossos dias a única medida para a aferição da realidade é a economia, ou seja, o que ele pode comprar, possuir, produzir e vender – e expressar em numerário – infinitamente trágico é a pretensão de “expulsar” Deus da vida colectiva para melhor adorar a Mamon.

Fala-se muito da “maioria” obtida pelos socialistas nas recentes eleições legislativas. “Maioria dos votos”, “vontade dos portugueses”, “clara vitória”, etc.

Já que o regime democrático idolatra os números como único critério de verdade, vejamos o que eles realmente nos dizem. Abstenção recorde, com 51.43%; votos brancos e nulos, 2.36%. Isto significa que a maioria dos votantes, 53.79% do total, não participou do sistema – obtiveram o verdadeiro 1.º lugar! Conhecesse a (falta de) classe política o conceito de vergonha, 53,79% dos assentos parlamentares estariam vazios, o que expressaria graficamente a realidade do país.

Mas não… Os profissionais da democracia são numerólatras desde que os números lhes sejam favoráveis. Os 53.79% que não participam do sistema não existem e, num passe de mágica aritmética, os 46.21% que estão “dentro” são transformados em 100%. Assim, os anunciados 36.65% da “vitória” socialista correspondem, na realidade, a 16.93%.

Vamos, pois, à economia, sem nela perder muito tempo, pois o que realmente conta para a salvação ou perdição da alma dos portugueses virá a seguir.

Diferentemente do relato trombeteado para aí, a economia portuguesa está estagnada há um quarto de século. É certo que houve alguma recomposição nos últimos anos, irrisória porém, quando se observa que a taxa média de crescimento nos últimos dez anos não ultrapassou 0,4% ao ano, e outros países, sobretudo no Leste europeu – certamente vacinados contra as utopias socialistas – ultrapassaram largamente o Portugal “de sucesso”. O PIB per capita em termos reais (2018) encontra-se abaixo do nível obtido em 1995 e a sua posição relativa no interior da União Europeia caiu da 16.ª para a 21.ª posição.

Os portugueses levam às costas a maior carga fiscal de sempre – 1 em cada 2 euros vai parar ao Estado – enquanto os estrangeiros gozam de isenções fiscais, além de poderem comprar residência ou nacionalidade, consoante o montante que “investem” no imobiliário. O encerramento do comércio local, a extinção dos ofícios tradicionais, e sua substituição por lojas de quinquilharia nas mãos de chineses e paquistaneses, são fenómenos facilmente observáveis por quem caminhar pelas ruas de Lisboa ou Porto. Uma especulação imobiliária desenfreada e inaudita, destinada à venda a estrangeiros e ao alojamento local para turistas, leva os custos da moradia a níveis totalmente incomportáveis para a maioria dos portugueses, que se vêem obrigados a abandonar não só os centros das principais cidades mas as próprias cidades.

Depois do desmantelamento da indústria, da agricultura e da pesca, na sequência da revolução de 1974, veio a “tábua de salvação” que pareciam ser os fundos “sem fundo” que chegavam da Comunidade – depois União – Europeia, freneticamente aplicados em obras públicas, muitas delas mal explicadas e contabilizadas de pior forma. A seguir foi a época das engenharias financeiras espectaculares, dos bancos que surgiam como cogumelos e dos banqueiros bilionários que povoavam as revistas mundanas. Os bancos quebraram e foram vendidos a estrangeiros, depois de os prejuízos serem assumidos pelos pagadores de impostos; os banqueiros continuaram bilionários e em liberdade, tal qual os seus sócios políticos.

Hoje, o que resta é a aposta absoluta no turismo de massas e na venda imobiliária, segundo a regra: tudo pelo estrangeiro, nada pelo nacional. Enquanto Portugal estiver na “moda”… E quando deixar de estar? O dilúvio?

Naquela que um dia foi Terra de Santa Maria o aborto é livre, o “casamento” de homossexuais é legal e a adopção de crianças por eles é um direito reconhecido. O governo do Sr. Costa é responsável pela lei (n.º 38/2018 de 7/8/2018) que consagrou “o direito à identidade de género e expressão de género e à protecção das características sexuais de cada pessoa”. E, recentemente, um seu despacho estipulou medidas de “protecção da identidade de género” nas escolas, assegurando a cada aluno o “direito” de utilizar o banheiro adequado à sua auto-percepção de género.

Mas o modelo socialista português não se fica por aqui: já está na pauta a introdução de mais um “direito fundamental” da pessoa humana através da despenalização da eutanásia.

Como bem se vê, o mundo tem hoje razões de sobra para aplaudir o Portugal.

Em saída pela esquerda

Chico Mendes sobre o altar de uma igreja. Quem será a próxima, Marina Silva?

Mais um fake news da Folha. Segundo o jornal paulista, em matéria publicada no início deste mês, “o avanço evangélico no Norte explica preocupação católica em encontro de bispos”.

Nada mais falso! Não nos referimos, claro, ao avanço dos protestantes, que é triste e real. Segundo dados do Datafolha reproduzidos na matéria, eles já são maioria no Norte do País (46% contra 45% de católicos) — A mentira é fazer crer que os bispos reunidos em Roma estejam preocupados com isso, ou que pretendam fazer algo para impedi-lo.

O fenômeno não é uma peculiaridade da Amazônia e de seu entorno: em 1994, éramos 75% de católicos no Brasil; em 2019, o número despencou para apenas 51%. Enquanto isso, no mesmo período, o número de protestantes mais do que dobrou, passando de 14% para 32%.

Os números ainda não refletem o tamanho da apostasia. Quantos desses que se dizem católicos conhecem ao menos os rudimentos do catecismo? Quantos buscam ter uma vida moral condizente com a Fé? Quantos ainda têm vida de oração?

Mas, não, isso não perturba os bispos. Para eles, o problema é o “dragão do tradicionalismo” — como expressou recentemente Dom Orlando Brandes, na Catedral de Aparecida — o problema é a “direita injusta”. Não demorará dez anos para o Brasil se tornar majoritariamente protestante, e os bispos estão em Roma discutindo ecologia e dançando com Pachamama. Em que mundo vivem?

Tudo isso, como temos tantas vezes lembrado neste Boletim, é só a milésima prova de que há algo de terrivelmente errado com o Concílio Vaticano II, e que de uma vez por todas é preciso tomar a decisão de fugir da missa nova e procurar os poucos padres de verdade que ainda sobrevivem aqui e ali.

Contra a História

Já se fala em perseguição religiosa e em nova guerra civil na Espanha. Talvez seja um exagero, mas o que dizer da decisão de exumar os restos mortais de um personagem histórico decisivo para a Espanha, morto já há 44 anos, mas enterrado no solo consagrado de uma basílica sob a guarda de uma abadia beneditina?

Uma desmesura, uma impropriedade, uma covardia.

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Amazonis Laetitia

Quando os bispos professavam a fé católica e os índios brasileiros manisfestavam seus ritos e expressões culturais. Será isso a “conversão ecológica” proposta por Francisco?

O texto abaixo foi publicado no dia 29 de junho de 2019. Infelizmente não foi possível mudar uma linha sequer.


O “Instrumentum Laboris” (‘Rancoris’ seria o termo apropriado) do próximo Sínodo Pan-amazônico, publicado este mês pelo Vaticano, é mais uma prova da apostasia epidêmica do clero oficial.

A propalada preocupação com o ‘povo de Deus’ que habita a selva amazônica, não esconde o desprezo pela fé e doutrina católicas por seus entusiasmados promotores.

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A Amazônia e a sarça ardente

Moisés e a sarça ardente. Sébastien Bourdon, c. 1642-45.

Às vésperas do Sínodo, o Papa Francisco vem externando sua angústia com a devastação da Amazônia, real ou suposta. “Problema mundial”, disse. Para debelá-lo, conclama para a “conversão ecológica” a fim de salvar o “pulmão vital” do mundo, nossa “casa comum”.

Quanto a nós, conclamamos Sua Santidade a voltar os olhos para outro incêndio, bem mais angustiante, que há meio século queima a única Videira mais vital que todas as florestas, e devasta a casa comum dos filhos de Deus, que é a Santa Igreja.

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O Direito pelo avesso

Moisés Quebrando as Tábuas da Lei. Gravura de Gustave Doré, c. 1866.

Uma constituição é uma carta política.

Historicamente ela surge como um conjunto de leis e princípios provados no tempo, que tratam da formação, sucessão e inspiração para os atos de determinado Estado. Neste sentido se falava, por exemplo, da Constituição de Atenas. Com a Carta do rei João Sem Terra, nasce a idéia de constituição como instrumento de garantias individuais e limites ao poder estatal. Há um início de decadência do senso de sociedade civil, reação natural às tendências absolutistas do outono da Idade Média.

Por fim, no período pós Revolução Francesa, as idéias de Código e Vontade Popular arrematam essa aberração, dão à luz a idéia de constituição como conjunto de leis promulgadas por poder onipotente, que determinará, a partir do seu nascimento, o perfeito substituto para a Lei Natural. Eis a jóia do Voluntarismo.

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