Comunicado do Superior-Geral aos fiéis neste tempo de epidemia

Caros fiéis,

Neste momento de provação, que certamente é difícil para todos vocês, eu gostaria de aproveitar a oportunidade para lhes enviar algumas reflexões.

Não sabemos por quanto tempo a atual situação perdurará, nem, mais importante ainda, como as coisas vão se desenvolver ao longo das próximas semanas. Em face dessa incerteza, a tentação mais natural é a de, desesperadamente, buscar garantias e explicações nas declarações e hipóteses dos “experts”. Com frequência, porém, essas hipóteses – que abundam de todos os lados – contradizem-se umas às outras e aumentam a confusão ao invés de trazer alívio às pessoas. Sem sombra de dúvidas, a incerteza é uma parte essencial desse combate. Depende de nós saber como tirar vantagem dela.

Se a Providência permite que uma calamidade ou um mal aconteça, Ela sempre atinge seu objetivo de trazer um bem maior que, direta ou indiretamente, sempre diz respeito às nossas almas. Sem essa premissa essencial, corremos o risco de nos desesperar, porque uma epidemia, uma calamidade ou qualquer outra provação sempre vai nos atingir despreparados.

Neste ponto, o que Deus quer que entendamos? O que Ele espera de nós ao longo dessa Quaresma muito única, na qual parece que Ele já decidiu quais sacrifícios devemos fazer?

Um simples microrganismo é capaz de deixar a humanidade de joelhos. Na era de grandes avanços tecnológicos e científicos, é, acima de tudo, o orgulho humano que é deixado de joelhos. O homem moderno, tão orgulhoso de suas façanhas, que instala cabos de fibra óptica no fundo do oceano, que constrói porta-aviões, usinas nucleares arranha-céus e computadores e que, depois de por os pés na lua, continua na sua conquista de Marte, esse homem está indefeso diante de um micróbio invisível. O tumulto da mídia nestes dias e nosso medo não podem nos impedir de compreender essa profunda lição muito fácil de se entender. É uma lição para corações puros e simples, que são capazes de enfrentar os tempos presentes com fé. A Providência ainda nos ensina através de fatos mesmo nos nossos dias. A humanidade – e cada um de nós – recebeu essa oportunidade histórica de retornar à realidade, ao que é real, e não a uma realidade virtual feita de sonhos, mitos e ilusões.

Traduzida para linguagem bíblica, essa mensagem corresponde às palavras de Jesus que nos pede que permaneçamos unidos a Ele o mais próximo possível, porque, sem Ele, não podemos fazer nada, nem resolver qualquer problema (cf. Jo 15, 5). Nestes tempos de incerteza, a espera de uma solução e o sentimento de impotência e a nossa fragilidade devem nos motivar a buscar Nosso Senhor, a pedir-Lhe, a pedir perdão, a rezar a Ele com mais fervor e, acima de tudo, a abandonar-nos à Sua Providência.

Acrescido a isso está a dificuldade ou mesmo a impossibilidade de comparecer livremente à Santa Missa, o que aumenta a dureza desse calvário. Mas temos em nossas mãos um meio privilegiado e uma arma mais poderosa que a ansiedade, a incerteza ou o pânico que a crise do coronavírus pode causar: estamos falando do Santo Rosário, que nos conecta à Virgem Maria e a o Céu.

Agora não é o momento de deixar o mundo penetrar em nossas casas, justo agora que as circunstâncias e medidas das autoridades nos separam do mundo! Tiremos vantagem da situação. E não nos esqueçamos de rezar por aqueles que estão sofrendo nesse tempo. Devemos incluir em nossas orações a Nosso Senhor todos aqueles para os quais o dia do julgamento se aproxima, e pedir-Lhe que tenha misericórdia de tantos dos nossos contemporâneos que estão incapacitados de tirar lições proveitosas para suas almas diante dos fatos atuais. Rezem para que, uma vez que a provação tenha sido superada, eles não retomem suas vidas como antes, sem mudar nada. Epidemias sempre serviram para trazer tíbios à prática religiosa, a pensar em Deus, a odiar o pecado. Nós temos a obrigação de pedir essa graça para cada um de nossos irmãos, sem exceção, incluindo – e acima de todos – os Pastores que perderam o espírito de fé e que não conseguem mais discernir a vontade de Deus.

Não desanimemos: Deus jamais nos abandonará. Meditemos, cheios de confiança, nas palavras que Nossa Santa Mãe, a Igreja, põe nos lábios do Padre durante o tempo de epidemia: “Ó Deus, que não desejais a morte, mas a conversão dos pecadores, voltai Vossa benevolência a Vosso povo, que volta a Vós, e, voltados que estão a Vós, livrai-nos, com misericórdia, dos flagelos de Vossa ira”

Estou rezando por todos vocês no altar e coloco todos sobre a proteção de São José. Deus os abençoe!

Pe. Davide Pagliarani

Um relato da Itália

São Carlos Borromeo nos tempos da Peste

[Publicamos, com a autorização do autor, o breve relato de um católico italiano, nosso amigo, que vive na região do Veneto — fechada por determinação legal em função da epidemia — sobre a situação do país]

Caro Amigo,

O momento atual da Itália é triste. O vírus, que agora se difunde facilmente, deu um golpe mortal nas nossas certezas, no senso de onipotência difundido por aqui até poucas semanas atrás.

Nas cidades desertas, silenciosas e atônitas surge a insegurança e o medo, mas também uma pergunta: Como foi possível tudo isso? Como se a doença tivesse surgido do nada. Ora, fomos nós, com nossa sede de dinheiro, com a cobiça do poder, que fomos encontra-lo nos imundos mercados da China materialista e comunista.

As centenas de mortos e os milhares de doentes que todos os dias enchem os nossos hospitais, colocando a dura prova o sistema de saúde italiana, não surgiram de repente do nada. São o fruto de comportamentos sem critérios, ditados por um estilo de vida que não sabe ver além de aparências.

Agora estamos nós aqui a nos condoermos por causa das restrições com que somos coagidos, pela impossibilidade de sair de casa, exceto por razões de extrema necessidade como ir ao supermercado e à farmácia. Quando cruzamos com algum raro transeunte na rua, olhamo-no com muita suspeita e aceleramos o passo.

É “politicamente correto” dizer que somos cidadãos do mundo, que já não existem barreiras econômicas, nem sociais e nem mesmo nacionais — Ideia iluminista falida já há tempos, mas que ainda apodrece nos dias de hoje.

Quando, portanto, saímos desses frágeis esquemas a realidade é bem diferente. “Infelizmente são frequentemente as epidemias (como também as guerras) que recolocam em circulação a morte, banida pelas hipocrisias desmilinguadoras da dita ‘sociedade civilizada’, e coagem os homens a redescobrirem a “Verdade”, arrancando-lhes à fórceps das convenções impostas pelos egoismos dominantes na nossa época” (Claudio Risé, jornalista)

Eis que então acontece aquilo que não queríamos nunca ver: os mortos que não podem ser velados pelos familiares; as exéquias fúnebres negadas, sem nenhuma missa; o padre apenas vem de modo privado, para uma rápida bênção.

As igrejas, como um comércio de sapatos qualquer, permanecem tristemente fechadas ou acessíveis apenas para uma breve oração, desde que se respeitem as distâncias de segurança entre os poucos presentes. Os sinos de tantos campanários italianos emudeceram.

Por lei, e ao menos até 03/04/2020, inclusive as capelas da FSSPX ficarão fechadas, mas ao menos um alívio nos foi dato pela decisão do Distrito da Itália da FSSPX de transmitir on line a santa Missa diária, o santo Rosário e algumas conferências.

Auguro a te e famiglia una buona quaresma. Un grande abbraccio,

Attilio.

O México enlouquece

Feministas atacam igrejas pelo direito de matar

Há menos de seis meses, denunciamos neste boletim uma marcha feminista ocorrida na Cidade do México, que culminou com o ataque a diversas igrejas. Não fosse pelos fiéis que, de terço na mão e postados em linha, impediram o acesso das manifestantes aos lugares sagrados, o resultado certamente teria sido pior.

Na ocasião também lamentamos a reação complacente das autoridades religiosas, e dizíamos: “Com tanta moleza, novos ataques são só uma questão de tempo”. Foi o que aconteceu.

Domingo passado (8/3), a Catedral Metropolitana de Hermosillo, no Estado de Sonora, foi vandalizada. As manifestantes lançaram “bombas” de tinta e picharam as paredes da igreja enquanto gritavam palavras de ordem. Tentaram em seguida invadir a Catedral, mas foram impedidas por fiéis que escoravam as portas com bancos da igreja.

Não foi um caso isolado, mas uma ação orquestrada. No mesmo dia, também houve tentativa de invasão nas catedrais mexicanas de Campeche e de Toluca. No Estado de Veracruz, feministas destruíram as portas da igreja conhecida como “El Beaterio” e se lançaram contra o Seminário menor e uma escola.

Na Cidade do México, multidões tomaram as ruas. Houve confusão: atacaram com coquetel molotov o Palácio do Governo e depredaram bens públicos. A Catedral, dessa vez, foi defendida pela polícia local.

No dia seguinte (9/3), organizou-se uma insólita “greve das mulheres” (un dia sin nosotras). Com grande adesão no país — e apoiada, note-se, pela Conferência Episcopal Mexicana (CEM) — as mulheres protestaram contra o “feminicídio” deixando as ruas vazias.

O México enlouqueceu!

Coronavírus: uma visão sobrenatural

[Nota da Permanência: reproduzimos a seguir nossa tradução do belíssimo sermão do Pe. Denis Puga – FSSPX, dado no sábado passado (7/3/20) na igreja de Saint Nicolas-du-Chardonnet, Paris, após a “Missa votiva para tempos de epidemia”]

Caríssimos fiéis,

Desde tempos imemoriais, sempre foi prática da Igreja, em tempos de calamidade pública, recorrer ao Senhor, especialmente em tempos de epidemia. Sem dúvida, esta não é a primeira e nem será a última na história da humanidade. Mas, as epidemias sempre têm algo de inquietante, já que, como os demônios, você não pode ver o que está atacando você. E assim a Igreja se volta para o bom Deus, especialmente por meio dessa missa muito antiga, que celebramos para pedir a Ele que nos proteja do mal.

O que a Igreja pede a Deus?

O que a Igreja pede com essas orações? Ela certamente pede a Deus que afaste de nós essas doenças; e, se fomos infectados, que nós as vençamos; e, se é chegada a hora da nossa morte, que nos encontre preparados. Mas não só isso: ela pede ainda a luz de Deus para que, durante esses períodos que são sempre especiais, muitas vezes marcados pela desordem social, o católico manifeste a sua fé e a sua virtude, posta à prova pela falta de confiança, egoísmo e falta de caridade. Ela também pede auxílio para todos aqueles que, especialmente entre os católicos, terão que cumprir nesses tempos seu dever de estado de modo cristão. Tenho em mente especialmente os médicos, as enfermeiras e todos aqueles que cuidam dos doentes, pois sempre foi uma das missões da Igreja cuidar dos que sofrem e dos doentes.

A Igreja também ora pelas autoridades públicas, porque esse tipo de provação, esse tipo de calamidade, exige que sejamos governados de maneira justa, com prudência, com sabedoria, mesmo se não compactuamos — longe disso — com todas as posições e opiniões daqueles que nos governam. Há momentos em que devemos pedir ao bom Senhor, como São Pedro disse tão bem, que os ilumine para que possamos nos submeter a sábios mandamentos.

O sentido desses acontecimentos

A Igreja também pede para que entendamos o significado desses eventos. Nossa primeira reação deve ser um reflexo do olhar sobrenatural e aqui, talvez o mais preocupante, caríssimos fiéis, nos dias que correm, não é tanto essa epidemia, não é tanto o que está acontecendo, mas ver que o medo entrou na Igreja, e com ele a preocupação e a falta de fé.

Não é hora de esvaziar as fontes de água benta, não é hora de fechar as igrejas, não é hora de recusar a comunhão para os fiéis ou mesmo os sacramentos para os enfermos. Ao contrário, é hora de nos aproximarmos de Deus, de entendermos o significado dessas calamidades.

Historicamente, a Igreja, por ocasião de pestes e de epidemias, realizou procissões públicas com manifestações da fé; essa tem sido uma oportunidade para a Igreja pregar a penitência. Como na belíssima passagem do Antigo Testamento que acabamos de ler na epístola: o rei Davi pecou por orgulho ao querer recensear o seu povo para ter a satisfação de saber que governava sobre uma grande nação. A conseqüência disso foi punição por Deus. Sim, porque Deus castiga como um pai pode castigar seus filhos. O castigo desse orgulho foi uma epidemia terrível, mas assim que Deus viu que os corações voltaram-se para ele, interrompeu a vingança do anjo da doença.

Tempos de penitência

É chegada a hora da penitência, a hora de retornarmos a Deus, tanto os justos como os pecadores, todos temos de fazer penitência. Deus nem sempre castiga e os acontecimentos, as calamidades, nem sempre são causadas diretamente por Deus, o que pode acontecer em casos excepcionais. São as leis da natureza que produzem essas coisas: terremotos, epidemias. Essas são as consequências do fato de que, desde o pecado original, o homem não é mais o dono de tudo. Sim, o homem não é mais o dono de tudo, caríssimos fiéis.

Mas, desde a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo, Deus disse que nos protegeria dessas calamidades públicas se lhe fôssemos fiéis. O problema hoje não é que usemos meios humanos para tentar repelir essas calamidades, isso é completamente normal, tudo isso está na ordem das coisas, o problema é que dizemos a Deus “deixe-nos em paz, vamos controlar isso”. O único que tem a situação “sob controle”, como se diz hoje, é o bom Deus. Então, o que faz Nosso Senhor? Ele nos diz: “Não querem minha ajuda? Façam então tudo sozinho”, e esta é a pior coisa, a pior coisa.

Voltemo-nos para o bom Deus

Como já disse, essa não é a primeira epidemia que o mundo enfrenta, e talvez não seja a mais grave. Pensem na gripe espanhola no final da Primeira Guerra Mundial, que causou mais de cinquenta milhões de mortos! A Igreja estava na linha de frente, se têm curiosidade, procurem os arquivos fotográficos da época. Verão as freiras que cuidavam dos doentes e que já usavam a famosa máscara da qual tanto hoje se fala, nada de novo sob o sol. Os católicos estavam na linha de frente para praticar a caridade, às vezes com o risco de suas vidas.

Esta é a oportunidade de manifestar sua fé. Durante a terrível epidemia da gripe espanhola, a Igreja continuou a celebrar o culto, os sacramentos, os sacramentais, o recurso à intercessão dos santos, a grande tradição da Igreja. Devemos fazer o mesmo, caríssimos fiéis. Não sejamos, e agora me dirijo aos padres, não sejamos como aqueles maus pastores que quando vêem ao longe o lobo — ou o vírus — fogem. Sejamos bons pastores.

Vítimas com Nosso Senhor

Sempre nos perguntamos, quando há desastres, porque os bons também são afetados. Não apenas os pecadores, mas os bons. Lembrem-se de que foi durante a terrível gripe espanhola que Jacinta e Francisco, os dois pastorinhos de Fátima, morreram em condições bastante terríveis, oferecendo suas vidas pela conversão dos pecadores. Eis uma lei que durará até o fim dos tempos: o bom Deus precisa de vítimas, vítimas que expiem em união com Aquele que é vítima por excelência, Nosso Senhor Jesus Cristo. No Evangelho, os apóstolos questionam Jesus acerca de um massacre que se deu no templo de Jerusalém: os galileus vieram rezar, oferecer o sacrifício e, nessa ocasião, Pôncio Pilatos os massacrou. Isso intrigou os Apóstolos e os discípulos de Jesus: “Como santos que oferecem o sacrifício são massacrados? Que pecado eles cometeram para Deus castigá-los dessa maneira?”

Da mesma forma, os Apóstolos interrogaram Jesus: houve uma catástrofe em Jerusalém, uma torre desabou, a torre de Siloé, fazendo dezoito mortos, e os apóstolos se fizeram a pergunta. “Que eles fizeram para morrer assim, ao vir em peregrinação a Jerusalém, sendo esmagados assim debaixo de uma torre?” Qual é a resposta de Nosso Senhor? Disse Ele: “Vós julgais que aqueles galileus eram maiores pecadores que todos os outros galileus, por terem padecido tanto? Não, eu vo-lo digo; se não fizerdes penitência, todos perecereis do mesmo modo”. É isso que o Senhor diz.

As calamidades são a consequência dos pecados

As calamidades devem nos fazer pensar que, se não fizermos penitência, todos pereceremos. Deus é bom, não quer a morte do pecador, e sim que ele se converta e viva. As calamidades públicas são frequentemente a conseqüência dos pecados das autoridades públicas. Hoje em dia temos razão de nos inquietar porque, todas as leis más que se multiplicam, todas as violações da lei natural, a apostasia — mesmo na Igreja — que vemos hoje, não podem deixar o bom Deus indiferente. No Antigo Testamento, lemos que os judeus protestavam que Deus não os punia: “Não nos amais, Senhor?” … Eles preferiram o castigo de Deus ao silêncio de Deus, e esse silêncio talvez seja a pior coisa.

Caríssimos fiéis, durante todo o dia, nos aparelhos de televisão, exibe-se os dados sobre doentes e mortos, e é verdadeiramente impressionante. Mas não nos esqueçamos de que, por exemplo, recentemente na Bélgica, em um ano, três mil pessoas submeteram-se a eutanásia, são números oficiais, contam-se crianças entre elas. Não estou falando sobre o número de abortos hoje. Todos esses pecados clamam aos céus. Caríssimos fiéis, devemos pensar sobre isso, devemos fazer penitência: Deus não quer a morte do pecador, e sim que ele se converta e viva.

O modo tradicional de abordar as epidemias

Caríssimos fiéis, entre os presentes vieram alguns aqui pela primeira vez, eu os conheci nesta semana. São pessoas às quais foi negada a comunhão nas igrejas porque a reivindicaram que fosse da maneira tradicional, na boca, e elas vêm aqui porque querem a comunhão.

Aqui se vê a fraqueza, para dizer o mínimo, dos responsáveis ​​na Igreja, não todos, felizmente. Não há risco maior de espalhar o vírus pela comunhão na boca do que na mão.

Além disso, um bispo — felizmente, ainda há alguns bispos assim nos Estados Unidos — lembrou em uma carta a seus fiéis: “Consultei um comitê de especialistas, médicos, antes de redigir esta carta e eles dizem que a comunhão na boca não representa um perigo maior de propagação”.

A comunhão não é fonte da morte, mas de vida.

Os fiéis têm o direito — como há alguns anos recordou a Santa Sé — de receberem a comunhão na boca. Aqueles que estão em calamidade não são privados dos sacramentos. Portanto, digo-lhes: sintam-se em casa, porque sempre encontrarão aqui a maneira usual e tradicional da Igreja de abordar epidemias. Confie também na medalha milagrosa, use-a, leve-a, é um baluarte contra todas as tentações do diabo.

Daqui a pouco, após a Missa, todos terão a possibilidade de vir à mesa da comunhão para receber a bênção com relíquias que temos, entre outras relíquias, as de São Pio X, São Pio V, do nosso querido Santo Cura d’Ars e de São João Eudes. Também há uma relíquia de São Tomás de Aquino que celebramos hoje. Não são amuletos, mas uma forma de receber a proteção desses santos, viver no cristianismo, suportar a doença e sermos protegidos dela, se essa for a vontade de Deus.

Ser como crianças

Termino dizendo que esta doença tem uma peculiaridade, tal como a vemos hoje: aparentemente, não afeta, ou pelo menos não afeta seriamente, as crianças. Talvez haja um sinal de Deus aí, porque no Evangelho Nosso Senhor nos diz: “Na verdade vos digo que, se vos não converterdes e vos não tornardes como meninos, não entrareis no Reino dos Céus”. Não entrar no Reino dos Céus é ser condenado, esse é o pior perigo, essa é a pior calamidade.

Em nome do Pai, e do Filho e do Espirito Santo. Amém.

A desordem da força

A origem da desordem: quando o soldado vira coronel, o cangaço é a lei.

Quem tem acompanhado os movimentos policiais no Ceará desde o ano passado, percebe facilmente, ainda que não compreenda a gênese exata do problema, que o Estado enfrenta uma das maiores crises de segurança pública da Federação. A situação de violência chega a se comparar com a já conhecida do Rio de Janeiro, com algumas exceções históricas e de formação. Não temos morros, e nossas favelas têm sociologia distinta. No Ceará, o crime é bem mais velado.

No começo do ano passado, devido a uma troca na secretaria de segurança e depois de algumas palavras duras do então novo secretário, o clima entre Governo e Facções criminosas azedou. Logo em seguida a uma ordem de separar membros de mesma facção – pois os presídios do Estado eram divididos entre as facções criminosas, tornando-se verdadeiros centros de comando organizado e escolas do crime – surgiu a reação violenta de grupos terroristas. Usando parte de uma carga de explosivos, que haviam roubado no ano anterior, tentaram explodir algumas obras públicas, além de queimar alguns ônibus e provocar terror generalizado na população. A situação saiu de tal forma do controle que o Governo foi obrigado a chamar a Guarda Nacional. Evidenciou-se, deste modo cru, a realidade do Estado: o domínio do crime e a ineficácia policial.

Este ano, um antigo assunto, ainda relativo à pasta de segurança pública, voltou à discussão. Trata-se das condições de trabalho dos policiais militares. Essa é uma pauta sensível, posto que em 2012 já havia estourado uma greve desta categoria. É preciso denotar, antes mesmo de se tratar sobre a moralidade da greve, que há uma atecnia, pois o termo aqui é usado de modo analógico, posto que não condiz com a natureza militar o uso do instituto greve. Termos mais corretos que correspondem a natureza da classe seriam: motim, insubordinação, deserção, traição, etc.

Naquela época apareceu a pauta do salário com toda a força que o poder econômico sempre goza nesses tipos de discussão, mas a força que moveu os policiais foi de outra ordem, eram suas péssimas condições de trabalhos e turnos. Quem conhece a rotina estressante da polícia facilmente compreende sua reação explosiva; muitos deles cumprem plantões que superam as vinte e quatro horas, além do claro risco de integrar a corporação, e do completo abandono legal no caso de confronto com o crime. Exigia-se, nessa época, dignidade; razão pela qual muitas mulheres de policiais se uniram ao ato e algumas personalidades políticas do Estado se elevaram junto com este movimento.

Hoje, as razões parecem ser diferentes. Houve uma prévia conversa com o poder público e definiu-se um novo projeto de lei que garantia um aumento de mais de mil reais nos salários dos policiais militares, a ser implementado até 2022. Ainda assim, os policiais acreditaram que o acordo não era o suficiente, e sem uma liderança certa ou lista de pedidos, a coisa foi tomando as proporções que temos visto nos jornais, com todo o circo de personalidades públicas se aproveitando do espetáculo.

Se perguntamos à sabedoria sobre a moralidade desses atos, nenhuma razão assiste a esse grupo de revoltosos. Ocorre que a greve é uma forma de desobediência civil e, como tal, precisa obedecer a certos parâmetros para ocorrer. É necessário, primeiramente, que o bem afetado seja de ordem natural ou sobrenatural; revolta-se contra a autoridade quem tem justa indignação, para que se proteja o culto divino, os direitos das famílias, a mínima condição humana. Sem gravíssimos motivos, não é possível rebelar-se sem pena de grave pecado.

Depois, é necessário a presença de uma autoridade legítima, pois toda desobediência legítima é obediência a uma autoridade superior. No contexto moderno, esse controle é exercido por meio jurisdicional. É verdade que os grevistas conseguiram uma ordem judicial protegendo-os de sofrerem represália por seus atos; mas é verdade também que o Governo do Estado conseguiu reverter essa juris(im)prudência, restando todos os atos da greve como criminosos. A própria natureza do fenômeno permanece acéfala, dificultando qualquer tratativa.

Outra condição é a de que o bem almejado seja maior que o possível mal produzido pelo ato. Não se trata de prever o futuro, mas do uso da prudência. Não se pode desestabilizar uma cidade para se alcançar um bem particular, pois é subverter a ordem e desconhecer a ideia de bem comum.

Poderia-se continuar a enumerar os inúmeros erros que trazem as ações dos policiais militares, mas não teríamos tinta e papel para analisar cada detalhe. A data que escolheram, próximo ao carnaval, e a atitude que tomaram, usando máscaras, fechando comércios, roubando viaturas; mostram cabalmente o espírito diabólico e egoísta que se apoderou do movimento. Hoje chega a Guarda Nacional, mais uma vez, para resolver os problemas de segurança do Estado do Ceará; mas a verdadeira pergunta é: será efetivo? Os criminosos serão punidos? Os crimes serão esquecidos?

Não há muito, no Chile, estourou uma revolução; e o Brasil parece ter se acostumado com a ideia de ceder à violência e ao sequestro para garantir privilégios a certos grupos. Toma-se a sociedade como refém, protegem-se certos lobbies e, no fim, nada é feito para sanar o problema. Enquanto isso vamos vivendo, rezando em nossas capelas que são nossas fortalezas contra os bárbaros que investem contra nós e nossas famílias. Pedimos a proteção do Rei dos Exércitos, para que não sejamos confundidos por nossos inimigos. In te Domine speravi: non confundar in aeternum.

Vinte-Vinte: Mais do mesmo

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A nova década de vinte

Confesso aos leitores que quando publico esses textos que parecem levar a sério o que é mera especulação, recebo mensagens e acenos para revelar tudo que imaginam que sei a respeito, compilar em alguns parágrafos todas as conjecturas e decifrar os enigmas arcanos por trás dos textos, como se o futuro do mundo já estivesse escrito e pertencesse a essa elite do Mal, que caçoa das pessoas comuns criptografando mensagens nas capas de suas publicações.

De fato a brincadeira soa verdadeira quando certas coincidências se manifestam com aquela “sincronicidade suspeita” que faz a festa dos conspiracionistas. Por outro lado, como veremos a seguir, boa parte dos textos aludem a fatos conhecidos, pessoas importantes, aniversários famosos, agendas políticas e modismos.

A capa deste ano segue um padrão de fácil assimilação, pois não parece esconder nenhum nome ou sigla, desde que o leiamos em seqüência. Vejamos:

The world in 2020 (O mundo em 2020), Trump, Brexit, AI (Inteligência Artificial), Tokyo, Mars (Marte), Climate (Clima), Xi [Jiping], Recession (Recessão), [Narendra] Modi, Expo, SDGs (Metas para desenvolvimento sustentável), [James] Bond, Beethoven, Visions (Visões), Biodiversity (Biodiversidade), Rat (Rato), NPT (Tratado de Não Proliferação), [Elizabeth] Warren, Raphael [Sanzio], [Florence] Nightingale, Russia.

Os sobrenomes da vez são de Donald Trump, Xi Jiping, Narendra Modi e Elizabeth Warren, que respectivamente são os líderes dos EUA, China e Índia, acrescidos da pré-candidata ao pleito americano pelo partido Democrata. Seria isso uma previsão da sua indicação como candidata à presidência pelo seu partido? Se Warren for um nome, pode apontar para o mega investidor W. Buffet, que completará 90 anos em agosto, notório financiador dos democratas.

Os acontecimentos principais listados são as Olimpíadas de Tóquio , a Expo Mundial de Dubai, os lançamentos por vários países de sondas espaciais para Marte, a conferência do tratado de não proliferação de armas nucleares a ser realizada na ONU em Nova Iorque, a estreia do 25o filme do agente 007 James Bond e o Brexit, a saída do Reino Unido da União Europeia, ocorrida no último dia 31.

Em 2020 serão celebrados os 500 anos da morte do pintor renascentista Rafael, os 250 anos do nascimento do compositor Beethoven e os 200 anos da pioneira da enfermagem moderna Florence Nightingale.

Da agenda promovida pela elite global para a década de 2020 estão as pautas biodiversidade, clima (mudanças climáticas), as metas para desenvolvimento sustentável (SDGs) e a inteligência artificial (AI).

Em janeiro, segundo o calendário pagão chinês, se iniciou o ano do rato, animal que representaria a riqueza e a abundância, além de ser o primeiro do ciclo de doze “signos” que o compõem. Daniel Franklin, editor da ‘The Economist’, chama atenção para um ciclo maior de 60 anos, mencionando que desde a década de 1960 não começávamos o decênio pelo rato.

Essas considerações apontam para uma contradição com a palavra recessão, que parece ser a única previsão contida na capa. O editor comenta:

“2. As economias lutam contra a ‘negatividade’. Bancos, especialmente na Europa, travarão uma batalha contra as taxas de juros negativas. Os EUA vão flertar com a recessão — mas não fiquem surpresos se o desastre não acontecer, e os mercados reviverem.”

Há nestas linhas muito de torcida, mas a revista costuma fazer esses maus presságios. Vide os quatro cavaleiros em 2019, os estranhos emojis de 2018 e as cartas de tarô em 2017.

Essa estratégia de macaquear o livro do Apocalipse vaticinando fome, peste, guerra e morte é velha, entretanto pode esconder dentro de ridículas previsões, sinistras intenções. Eis o nosso dilema.

No caso da capa, a recessão faz as vezes da fome, que parece cada vez mais um “problema menor”. Mas lembremos que o último ano do rato foi 2008, que nos faz recordar uma grave crise econômica e a eleição de Barack Obama. A possível citação a Warren Buffett e a engenhosa inscrição das criptomoedas no teste de acuidade visual (vide quadro abaixo) querem fazer-nos atentar ainda mais para o mercado financeiro.

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Sopa de letrinhas: As criptomoedas substituirão o dinheiro nesta década?

A guerra ou sua ameaça pode estar relacionada aos vocábulos NPT, Trump, Xi, Modi, Marte e Rússia. Todos aí possuem armas nucleares. Marte é o deus romano da guerra. E ainda a palavra Warren está dividida em duas linhas, com as três primeiras letras W-A-R (guerra em inglês) sobre a última palavra da capa: Rússia. Notem que Putin não foi citado, e sim seu país.

Acredito que a revista alude às próximas eleições americanas e à suspeita de interferência daquele país no pleito de 2016 com a vitória de Trump. Fazem assim um trocadilho com guerra e [Elizabeth] Warren, possível concorrente do atual mandatário dos EUA.

A morte participa da capa com os vocábulos D-I-E (morrer em inglês), Bond e climate. “Die” junta o fim do nome Modi e a letra “e” de Expo. O filme do 007 chama-se “No time to die” (Sem tempo para morrer). Por fim, as supostas mudanças climáticas são noticiadas como ameaças reais à humanidade.

Traço ainda uma ligação entre a morte aludida na capa com o comentário do editor ao fim de seu artigo, em que menciona mais uma vez o início do novo decênio e aborda a questão demográfica com a chegada dos “boomers” (pessoas nascidas na década de 1950) aos 65 anos. No próximo artigo farei considerações sobre a bomba demográfica que enfrentaremos até 2030.

Nos resta agora explicar um último e intrigante vocábulo: Vision ou Visions, que destaca-se pela cor vermelha dentro de um mar de caracteres negros. Encontrei três possíveis explicações, além daquela que Franklin endossa.

A primeira seria em relação ao próprio teste de acuidade visual (TAV), pois as cores vermelha e verde são as mesmas da clássica tabela dos oftalmologistas. Também percebe-se uma brincadeira com os números 2020, pois o resultado normal do TAV é 20/20. A proporção significa que “o paciente enxergou a 20 m o que uma pessoa normal enxergaria a 20 m”. Ou seja, um indivíduo míope grave vai enxergar a 20 m o que uma pessoa normal enxerga a 100 m por exemplo, resultando numa proporção 20/100.

A segunda explicação é uma reverberação do NPT, pois o 2020 Vision Campaign tem por objetivo a assinatura do Protocolo Hiroshima-Nagasaki, assim destruindo todas as armas nucleares até a próxima conferência do NPT.

Em terceiro lugar, 2020 Visions se refere a uma série de histórias em quadrinhos da década de 1990 que se passam neste ano. Todas elas indicando um futuro distópico dos EUA, moralista e decadente, sendo que a primeira trata de uma pandemia.

Apesar dessas possíveis ilações, as tais “visões” da capa é uma seção da revista em que são descritas as especulações de notáveis, como os fundadores da DeepMind e da Huawei, que aparecem como manchetes menores no topo da capa.

Por fim, fiquei com a sensação que faltou algo sobre a Europa Ocidental, digo continental, pois Rússia e Reino Unido são representações pálidas do que entendemos como Europa. Rafael e Beethoven são apenas referências indiretas. França, Alemanha, Itália, Escandinávia, Espanha, Portugal, Centro e Leste europeus são ausências que preencherão lacunas?

Também me surpreende causas progressistas como gayzismo, feminismo, transgenderismo e masculinidade tóxica não serem lembradas de maneira vívida e clara. Será esse silêncio um recuo táctico ou um falso esquecimento?

Não tenho respostas.

E para quem achou que estávamos atrasados, é bom lembrar que no Brasil 2020 só começa depois do Carnaval.