A tentação dos santos

O texto a seguir foi extraído do artigo Padre Pio, Vaticano e Novus Ordo Missae, publicado no último número da Revista Permanência. É consolador (ainda que não seja novidade) ouvir dos santos que também eles padecem de tentações. De tentações proporcionais à sua santidade, seja em duração, seja em intensidade. Nossa comunhão com eles também se manifesta aqui – e sobretudo aqui – nesse terreno tão terrível e movediço.


Parece que Deus espera que os justos expiem de modo especial, por meio da tentação, os pecados públicos dos seus contemporâneos. Num tempo em que a psicanálise, com sua aptidão para oferecer desculpas para o pecado, ganhava terreno, Padre Pio – como Teresinha – teve de passar por uma crise quase intolerável de escrúpulos, que o atormentou por três longos anos. Então, depois da tempestade veio a noite, a noite da alma que perdurou dezenas de anos, com lampejos ocasionais de luz:

Vivo numa noite perpétua… Vejo dificuldades em tudo e não sei se ajo bem ou mal. Vejo que não se trata de escrúpulos: a dúvida que sinto quanto a estar ou não agradando ao Senhor me esmaga. Essa ansiedade me persegue em todos os lugares: no altar, no confessionário, em todo canto!

É com o pensamento nas suas experiências místicas que devemos interpretar suas máximas: “O amor é mais belo na companhia do medo, porque assim se torna mais forte. Quanto mais se ama a Deus, menos medo se sente!”

Santa Teresinha do Menino Jesus opôs o caminho da infância espiritual ao racionalismo orgulhoso de seu tempo, mas também sofreu tentações terríveis contra a fé. Seu brado, “Eu acreditarei!”, é bem conhecido. Padre Pio também padeceu violentas e prolongadas tentações contra a fé, como testemunham suas cartas ao Fr. Agostino:

“Blasfêmias cruzam a minha mente incessantemente, e mais ainda idéias falsas, idéias de infidelidade e descrença. Sinto minha alma transfixada a cada segundo da minha vida, isto me mata… Minha fé só se mantém pelo esforço constante da minha vontade contra todo tipo de sedução humana. Minha fé é fruto dos esforços contínuos que me imponho. E tudo isto, Padre, não é coisa que aconteça uma ou duas vezes ao dia, mas é contínuo… Padre, como é difícil crer!”

Que lição preciosa para nós, caso nos vejamos, por exemplo, surpreendidos em tentações de tão alto grau.

Notícias do Sri Lanka

O texto a seguir é a versão traduzida e editada do artigo publicado no La Porte Latine pelo padre Fabrice Loschi, missionário da FSSPX no Sri Lanka.

Capela da Missão da Fraternidade no Sri Lanka

Muitos de vocês expressaram sua preocupação conosco e contam estar rezando por nós, depois dos ataques às igrejas que aconteceram na manhã da Páscoa. Quero agradecer sinceramente por suas orações e informá-los sobre a situação.

Presença católica

No Sri Lanka, embora o país seja predominantemente budista, a Igreja é uma instituição muito estimada pelas autoridades públicas. A Igreja Católica é valorizada pela excelência de suas escolas, hospitais e por todas as outras instituições de caridade. No território do Sri Lanka, a Igreja Católica é dividida em 12 dioceses, com cerca de 1,2 milhões de católicos, que representam cerca de 6,1% da população, de acordo com o censo de 2012. A Igreja Católica goza de liberdade de culto e está crescendo com regularidade, acolhendo novos convertidos, abrindo novas paróquias, construindo igrejas, abrindo novas escolas e novas casas religiosas a cada ano.

Vida católica

Para um padre, o Sri Lanka é um dos melhores lugares do mundo. O Priorado da Fraternidade Sacerdotal São Pio X está localizado na cidade de Negombo, uma das mais católicas do país, o que permite ao nosso clero experimentar algo raro hoje em dia: viver em um sociedade profundamente cristã, um privilégio que quase desapareceu da face da terra.

Ao dirigir na estrada que corre ao longo da costa oeste do país, da capital Colombo para a cidade de Chilaw, pode-se ver oratórios ou estátuas de santos em quase todas as encruzilhadas. Negombo é muito famosa por isso. Há até uma estátua de Cristo Rei, com três metros de altura, na prefeitura, para mostrar que Negombo é uma cidade católica. Há dois anos, as autoridades da cidade inauguraram uma estátua de Nossa Senhora no topo da torre do relógio, que fica no centro da cidade, com uma tela eletrônica de boas-vindas aos visitantes.

Pequena Roma é o apelido de Negombo.

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Uma oração para tempos difíceis

Prece de São Luís Maria Grignion de Montfort pedindo a Deus missionários para a sua Companhia de Maria:

Lembrai-Vos, Senhor, desta Comunidade nos efeitos de Vossa justiça. Tempus faciendi, Domine, dissipaverunt legem tuam: é tempo de cumprir o que prometestes. Vossa divina fé é transgredida; Vosso Evangelho desprezado; abandonada Vossa Religião; torrentes de iniquidade inundam toda a terra, e arrastam até os Vossos servos; a terra toda está desolada: Desolatione desolata est omnis terra; a impiedade está sobre um trono, Vosso santuário é profanado, e a abominação entrou até no lugar Santo.

Vede, Senhor Deus dos exércitos, os capitães que formam companhias completas, os potentados que ajuntam numerosos exércitos, os navegadores que reúnem frotas inteiras, os mercadores que se congregam em grande número nos mercados e nas feiras! Quantos bandidos, ímpios, ébrios e libertinos se unem em massa contra Vós, todos os dias, e isto com tanta facilidade e prontidão!

Basta soltar um assobio, rufar um tambor, mostrar a ponta embotada de uma espada, prometer um ramo seco de louros, oferecer um pedaço de terra amarela ou branca; basta, em poucas palavras, uma fumaça de honra, um interesse de nada, um mesquinho prazer animal que se tem em vista, para, num instante reunir os bandidos, ajuntar os soldados, congregar os batalhões, convocar os mercadores, encher as casas e os mercados, e cobrir a terra e o mar com uma multidão inumerável de réprobos, que, embora divididos todos entre si, ou pelo afastamento dos lugares, ou pela diversidade dos gênios, ou por seus próprios interesses, se unem, entretanto, e se ligam até a morte, para fazer-vos guerra sob o estandarte e sob o comando do demônio.

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O poder da oração

Uma boa frase vale mais do que mil palavras.

A história a seguir é a versão editada de uma das que foram publicadas na última edição da Revista Permanência. Todas têm por protagonista Katharina Tangari, uma dessas personagens anônimas e santas que em segredo aplacam a ira de Deus contra infâmia do mundo.

A história, belíssima, vale ser lida integralmente. Mas a conclusão que Katharina tira dela deveria vir escrita no coração de todos:

São Pio de Pietrelcina

Pouco importa o que pedimos, contanto que o peçamos com grande simplicidade.


Em busca dum auxílio especial numa situação difícil, planejei uma peregrinação ao santuário da Madona do Rosário de Pompeia. (…) Visitei essa amiga para pedir os conselhos necessários à peregrinação (…). Para minha surpresa, ela ofereceu com muita candura a sua companhia (…) Escolhêramos partir no primeiro sábado do mês do Rosário, dia 1º de outubro de 1949.

Durante a peregrinação aconteceu um estranho episódio que me aproximou ainda mais do Padre Pio. Fazíamos já dez horas de estrada quando, ao atravessar por San Giovanni de Teduccio, um rapazinho veio por trás de nós e, falando comigo, mostrou-me um livreto de orações com a estampa da Madona de Pompeia. Pressuroso, perguntou-me o rapaz: “As senhoras não perderam isto?” e, após dar-me o livro, desapareceu.

Esse livrinho era o da Novena de agradecimento à Madona de Pompeia, que eu levara na intenção de recitá-la ao final da peregrinação. Guardara-o numa bolsinha de couro que estava costurada dentro do bolso do casaco. Junto à novena havia o dinheiro para a viagem de volta — no total, três mil liras — um vale de dezesseis mil liras, a fotografia do meu marido e uma do Padre Pio ofertada por uma irmã franciscana, uma imagem do Menino Jesus encontrada no livro de Del Fante, em que estava escrito: “Abençoada pelas mãos estigmatizadas do Padre Pio”.

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A vingança dos covardes

Valle de los caídos, Espanha

No pequeno cemitério do Vimieiro, aldeia do centro de Portugal, uma simples lápide de pedra com uma cruz encima e “AOS 1970” gravado em um dos lados, indica a última morada do homem providencial que governou o país entre 1932 e 1968: António de Oliveira Salazar. A poucos metros dali encontra-se a pequena igreja do seu baptismo e, mais acima, a modesta casa que o viu nascer.

O despojamento da sepultura, a simplicidade do povoado, a humildade do lar natal, contrastam com a dimensão extraordinária alcançada pelo homem e pela obra de restauração nacional que realizou em sua pátria.

Três atributos são – ou deveriam ser – fundamentais em um governante: inteligência, integridade e dedicação. Se não é tarefa fácil identificar uma dessas qualidades em um homem público, mais difícil é encontrar duas, e improvável encontrar as três simultaneamente. Para o bem de Portugal e dos portugueses, a Salazar foi concedida – e amplamente – a graça de possuir aquela tríade de ouro do verdadeiro condutor da Polis. Não apenas inteligência, mas uma inteligência superior; não só integridade, mas uma integridade – pese a redundância – absoluta; não apenas dedicação, mas uma dedicação total da sua pessoa a Portugal.

E nele, essas três características essenciais não estavam “soltas” a flutuar no espaço, mas solidamente ancoradas em um profundo amor a Deus e à pátria. Só então pode entender-se o núcleo do seu pensamento político, no qual a nação é o valor supremo na ordem temporal e o Estado “o ministro de Deus para o bem comum” – conceitos naturalmente incompreensíveis para a mentalidade materialista, hedonista e mundialista dos nossos dias.

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Nas chamas do modernismo

Gárgulas da Catedral de Notre-Dame de Paris

Acompanhei um pouco a situação em Paris pelos jornais franceses, e me parece importante escrever para os meus fiéis e leitores do site, para lhes falar um pouco sobre esse acontecimento estranho do incêndio de Notre Dame de Paris.

Muitas catedrais, igrejas, mosteiros queimaram em incêndios antes desse. Muitos terremotos derrubaram suas flechas monumentais, como vimos hoje cair a de Paris. Mas não posso deixar de considerar que essa destruição tem um caráter diferente. Antes do fogo destruir esta Citadela da Fé católica, há muito tempo já desaparecera o fogo que a levantara há cerca de 1.000 anos atrás.

Quando leio nos jornais os políticos falando de cultura, de Europa, de arte, não posso deixar de pensar na culpa que esses senhores têm por tudo o que foi jogado fora de civilização católica, dos mil anos da Idade Média. Não posso impedir que brote no coração o ódio por essa Revolução que há 250 anos destrói o que nossos heróis construíram para pasmo do mundo moderno, pelo simples amor a Nosso Senhor Jesus Cristo, a sua Mãe Maria, e a sua Esposa, a Santa Igreja  Católica Apostólica Romana. Não posso deixar de odiar com todas as forças da alma esse Modernismo de Vaticano II, que ainda hoje derruba as simbólicas cruzes da fé nos corações.

Na verdade, o mundo moderno e a Igreja modernista não merecem esses monumentos da fé antiga, pois que a repudiaram com desprezo e violência. Era normal que, na Apostasia Geral em que vivemos, os marcos da fé de outrora fossem desaparecendo, como destruídos foram os Sacramentos, as Orações, o Sacerdócio, as igrejas e tudo o mais.

Mas a vida continua. Já estão arrecadando o dinheiro da reconstrução. Muito dinheiro. Já anunciaram que reunirão os melhores artífices do mundo para refazer o que foi destruído pelas chamas.

De que serve? Levantarão uma Catedral do Pluralismo revolucionário. Cantarão loas à Fraternidade universal. Incensarão a deusa Liberdade no altar da nova Notre Dame. E todos, unidos pela Igualdade sem Deus, soltarão fogos no dia da inauguração.

No limiar da nossa Semana Santa, quando nos preparamos para o luto litúrgico pela Paixão de Morte de Cristo, soa o dobre por Notre Dame. E mais uma vez choramos a destruição da fé.

Domingo que vem nos alegraremos com Cristo Ressuscitado, e poderemos tratar da nossa salvação eterna, nos nossos esconderijos, nas nossas catacumbas da Tradição.