Vicent Lambert: a vida por um fio

“Então dirá também aos que estiverem à esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, que foi preparado para o demônio e para os seus anjos;
porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber
(Mt 25, 41-42)

Eutanásia ou o aborto dos desvalidos: a completa privação da moral (Vincent e sua mãe)

Obs: Este post já estava escrito quando foi divulgada a boa notícia de que a Corte de Apelação de Paris mandou o hospital restabelecer o tratamento. Deo Gratias!

Foi na manhã deste triste 20 de maio que, por uma imposição do governo, um homem inválido foi condenado à morte por desidratação e inanição. Seus familiares, que por anos lutaram em vão para reverter a decisão das cortes, foram apartados do seu filho na noite de ontem, e passam o dia esperando que o francês Vincent Lambert una o seu destino ao da americana Terri Schiavo e do inglês Alfie Evans, outras vítimas dessa autêntica cultura da morte.

Vincent tornou-se tetraplégico após um acidente automobilístico, passando três anos em coma. Em abril de 2013, a equipe médica, com o consentimento da mulher do jovem, decidiu que cortaria a alimentação. A família recorreu mas, durante 31 dias, Lambert ficou sem comer – assim mesmo resistiu e ainda encontrou forças para tentar falar com seus pais e cuidadores. Seus pais dizem que o viram chorar e mover a cabeça. Um médico observou que, aos poucos, Lambert recuperava a deglutição.

Uma batalha judicial foi instaurada. De um lado, a equipe médica, a esposa de Vincent Lambert e vários familiares requeriam a cessação dos cuidados. Do outro, apenas os pais, fortes do Quinto Mandamento que diz “Não matarás” (Ex 20, 13). A morte de um inocente, tanto como o aborto ou o suicídio, são crimes condenados pela Lei de Deus. Pio XII ensinava: “o médico desprezará toda sugestão que lhe seja feita de destruir a vida, por mais frágil ou humanamente inútil que esta vida possa parecer” (Discurso aos cirurgiões, 13/02/1945).

Depois de perderem nas cortes francesas, o Sr. e a Sra. Lambert recorreram ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos que, claro, ficou do lado dos que queriam a cessação dos cuidados médicos.

Finalmente, em 9 de outubro de 2015, depois de uma série de recursos, o tribunal administrativo delegou ao médico o poder de decisão sobre a vida de Lambert.

Na noite de ontem, os pais despediram-se do filho. Não poderão sequer estar ao lado dele em seus momentos finais. Imerso em sedação profunda, o rapaz terá a alimentação cortada, e morrerá aos poucos, de sede e fome.

“Não é Vicent”, declarou Alain Escada, “é a República que deveria sofrer eutanásia!”

É de se temer que não se trate de um caso isolado. No corredor da morte francês, outros 1.700 pacientes aguardam sua sentença. Vincent Lambert é o precedente, a jurisprudência que faltava para a condenação deles.

Já se escreveu que os argumentos dos defensores do aborto é uma espécie de paródia demoníaca das palavras da Eucaristia, “Este é o meu corpo”. O mesmo talvez possamos dizer da Eutanásia decidida pelo Estado.

Ou uma coisa, ou outra

A coisa é simples: não é possível ser católico e acreditar na tal Unidade Transcendente de todas as religiões. Ponto final.

A Torre de Babel, Pieter Bruegel

Essa ideia, da qual a Torre de Babel é uma alegoria exemplar, é o fundamento do perenialismo, cuja versão cabocla ronda nossas igrejas e capelas. Supõe que todas as religiões – o catolicismo inclusive – têm uma origem comum: seriam como que traduções mais ou menos imperfeitas de uma mesma realidade.

Colocam-se assim no mesmo saco o erro e a verdade, como se fosse indiferente abraçar a Religião revelada por Deus ou algum delírio excogitado pelos homens. Será preciso recordar aqui os rudimentos mesmos do Catecismo?

P: Que nos proíbe o primeiro Mandamento?
R: O primeiro Mandamento proíbe-nos a idolatria, a superstição, o sacrilégio, a heresia, e todo e qualquer outro pecado contra a religião. (Catecismo de S. Pio X)

Não é preciso pensar muito para ver que o perenialismo faz pouco do sangue dos mártires e da constância dos religiosos, tem como inúteis as missões e o apostolado, desdenha do Sacrifício da Cruz.

Não é tudo. Dentro da louca perspectiva deles, o Catolicismo, longe de ser a Verdade Revelada pelo Deus Vivo, seria necessariamente a mais equivocada e estúpida de todas as religiões por sua pretensão à exclusividade, por declarar Extra Ecclesiam nulla salus est (fora da Igreja não há salvação). Jesus, ao dizer “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”, só poderia ter se enganado.

P: Somos obrigados a acreditar em todas as verdades que a Igreja ensina?
R: Sim, somos obrigados a acreditar em todas as verdades que a Igreja nos ensina, e Jesus Cristo declarou que quem não crê, já está condenado.

Se a tese da unidade transcende de todas as religiões é vitoriosa, só pode ser no sentido de ter granjeado para si o respeito e a admiração de uma quantidade de mentes débeis, de todo ignorantes da doutrina católica.

O que é pior, no Brasil, essa baboseira exotérica (sim, com “x” mesmo), após as inevitáveis adaptações, produziu um falso catolicismo meio-conservador meio-ecumênico que, como se disse acima, hoje toma de assalto muitas igrejas e capelas, com o beneplácito, diga-se, de alguns sacerdotes.

Como um pouco de catecismo lhes faria bem!

P: Que é a heresia?
R: A heresia é um erro culpável de inteligência, pelo qual se nega com pertinácia alguma verdade de fé.

Formam, enfim, no máximo, mais uma seita, cuja característica mais original é ser daquelas a que se pode acrescentar o apodo “dos Últimos Dias”, mas não porque aguardem o apocalipse para breve, mas porque — por não se estribarem na doutrina revelada — suas opiniões e análises mudam ao sabor dos ventos da conveniência, de tal modo que o que foi dito nos “últimos dias” sempre difere do que fora dito nos “últimos dias” anteriores. Aqui, no entanto, não se encontrará unidade transcendente ou imanente para as suas opiniões.

O Segredo do Confessionário

São João Nepomuceno lançado da ponte Carlos, em Praga.

Entre as muitas perversidades do mundo contemporâneo, vemos renascer o ânimo contra o sigilo do sacramento da confissão. Na Austrália, alguns estados já aprovaram lei obrigando o padre a revelar às autoridades certos crimes que lhe forem confessados. Nos Estados Unidos, um projeto de lei do mesmo teor será avaliado em breve pelo senado na ultra-liberal California, e os padres infratores poderão até mesmo ser presos.

Tudo isso é inaceitável para toda alma verdadeiramente católica. O sigilo da confissão é inviolável por instituição divina. “O sacramento necessariamente exige que o confessor oculte os pecados”, ensinava Santo Tomás, e o direito canônico de 1917 determina: “O sigilo da confissão é inviolável” (Cânone 889).

É esse o ensinamento constante da Igreja, e não são poucos os mártires do sigilo do confessionário. São João Nepomuceno, por exemplo, foi torturado e afogado por ordem de Venceslau IV, rei da Boêmia, por recusar-se a contar-lhe os pecados que a rainha lhe revelara em confissão. Mais próximo de nós, no México, em plena guerra Cristera, houve um sacerdote assassinado por se recusar a dizer aos agentes do governo o que ouvira no confessionário.

Mas o mundo moderno liberal, com seu dogma da soberania popular, “não reconhece nenhum limite que lhe seja exterior, nenhum valor que lhe seja superior, nenhum outro direito que possa resistir-lhe”, estando preparadas as bases para o Estado totalitário. Se os governantes se julgam em condições de desprezar o direito natural — como fazem na questão do aborto — como imaginar que respeitarão as leis da Igreja?

O Liberalismo é nosso inimigo e, sim, a guerra é espiritual.

O respeito devido às autoridades

“A autoridade é a grande aliada da liberdade”

O propósito deste texto é tratar da pergunta seguinte: Qual o dever do católico diante das autoridades civis?

Santo Tomás de Aquino ensinava que “governar é dirigir para o fim devido”, e que os que governam têm de certo modo excelência superior a dos governados (S.T. IIa IIae, q. 102, a. 2). Leão XIII, em Immortale Dei, vai além, e afirma que “A autoridade dos príncipes reveste uma espécie de caráter mais sagrado do que humano”.

Tudo isso parecerá chocante à mentalidade moderna, segundo a qual a liberdade é o bem supremo e a autoridade não passa de um mal necessário — hay gobierno? Soy contra. Essa idéia que nos torna por princípio avessos a todo governo, e faz parecer que a única atitude sensata é a do antagonismo, é diametralmente oposta ao ensinamento da Igreja.

Pe. Jean-Dominique ensina que foi no iluminismo que surgiu a idéia de contrapor liberdade e autoridade, governado e governante. Montesquieu seria o principal responsável por essa reviravolta. Nas suas “Cartas Persas”, narra a história de um povo que um dia resolveu escolher um rei para governar e, para tanto, elegeu o mais virtuoso dos homens. O novo rei, no entanto, protesta que morrerá de desgosto, pois antes o povo era livre, e agora submisso.

Pura bobagem, a autoridade é tudo menos inimiga da liberdade. Ensina Mons. de Ségur que a autoridade é o poder “delegado por Deus a alguns homens para proteger, ajudar e estimular a liberdade dos outros”. Por isso mesmo, conclui, não é menos digna de estima do que a liberdade.

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Uma oração para São José

Meu querido São José,

Jesus disse “sede perfeitos como vosso Pai é perfeito”. A Vós, que cumpristes o papel do Pai na vida de Jesus e Maria, peço que sejais para mim o modelo da perfeição possível neste mundo.

Enchei meu coração desse amor prático e firme que devotastes aos dois, e me inspirai a humildade, a paciência e a pureza que vos são tão próprias.

Tomai-me como filho, São José, e fazei de mim imagem vossa. Que eu não me perca mais em gestos e palavras vãs, e viva como vós em desperto silêncio, no mundo, sem ser do mundo, a orar e laborar, como secreto monge que conhece sua missão e a si mesmo.

Amém

O catolicismo não é “judaico-cristão”

Este texto é o resumo de um longo artigo do historiador argentino Rúben Calderón Bouchet (1918-2012).

A Escola de Atenas, Rafael. Museu do Vaticano

Tornou-se moda entre os cristãos referir-se à nossa religião com a denominação de judaico-cristã. A Igreja, na medida em que rompeu sua conexão original com a Sinagoga, adaptou seu magistério às exigências da civilização greco-latina e se separou de tudo aquilo que, na tradição israelita, pudesse ter de hebraico. A atitude de Pedro e de Paulo ao tomar Roma como centro do seu apostolado foi, desde o começo, favorável a um entendimento profundo com as expressões mais notáveis da civilização helênico-romana.

Política, arte, ciência, economia e língua vinham agora do mundo gentio greco-latino. De Israel se conservava a Escritura e, com ela, o conteúdo da tradição revelada, mas examinado à luz dos princípios impostos pelo mistério do Verbo Encarnado. O encontro de gregos e cristãos foi decisivo para o futuro de uma assembleia religiosa cuja catolicidade dependia dessa união.

Ninguém pode negar que o povo de Israel, como qualquer outro, teve usos e costumes que dependiam naturalmente de seu temperamento, de suas virtudes, de seus vícios, das vicissitudes da sua história, de sua ignorância e de seus conhecimentos. Separar isso dos conteúdos revelados tem sido a tarefa do Magistério da Igreja.

O Símbolo de Niceia é uma condensação particularmente feliz desse discernimento e prepara, no início do século IV, a formulação de uma Teologia Dogmática que pouco terá que adicionar a seu conteúdo essencial, no transcurso dos séculos.

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