A Suécia que a Suécia quer esquecer

Em breve, os suecos talvez esqueçam o que significa ser sueco.

— Lembram-se todos — disse o Administrador, com sua voz forte e profunda — lembram-se todos, suponho, daquelas belas e inspiradas palavras de Nosso Ford: “A História é uma farsa”. A História — repetiu pausadamente — é uma farsa.

Agitou a mão; e parecia que, com um invisível espanador, sacudia um pouco de poeira, e a poeira era Harappa, era Ur na Caldéia; algumas teias de aranha, que eram Tebas e Babilônia, Cnossos e Micenas. Uma espanada, depois outra – e onde estava Ulisses, onde estava Jó, onde estavam Júpiter, Gautama e Jesus? Uma espanada – e essas manchas de lama antiga que se chamavam Atenas e Roma, Jerusalém e o Médio Império – todas haviam desaparecido. Uma espanada – o lugar onde era a Itália ficou vazio. Uma espanada – desaparecidas as catedrais; uma espanada, mais uma – aniquilados o Rei Lear e os Pensamentos de Pascal. Uma espanada – desaparecida a Paixão; outra – morto o Réquiem; mais outra – acabada a Sinfonia; mais outra…

A passagem acima foi tirada do “Admirável Mundo Novo”, de Huxley, mas poderia ser tirada das páginas dos jornais da Suécia. Naquele bravo país, o Conselho de Educação acaba de apresentar uma nova proposta de reforma do currículo eliminando, de uma espanada só, todo o estudo da Antiguidade, da Idade média e de boa parte da história moderna.

A justificativa? Dar mais espaço no currículo para os “valores democráticos” e questões do mundo contemporâneo, tais como imigrações, questões de gênero, aquecimento global etc.

O tempo começará a ser contado a partir da Segunda Guerra Mundial, com ênfase no Holocausto; sobrevoará a Guerra Fria, deve dar uma paradinha nos Beatles e nos Rolling Stones, exaltará a derrota dos EUA no Vietnã para finalmente chegar ao que de fato interessa: as queimadas da Amazônia, se um pai pode ser mãe, ou se as saias são uma opressão do patriarcado. Sim, falarão mal, muito mal mesmo, do homem branco. Só nesse contexto é que talvez se dê um salto até o século XVIII para tratar da escravidão africana.

O pretexto alegado é a falta de tempo para ensinar tanta história. Deve ser só pretexto mesmo: no fundo prefeririam cabular aula com a Greta Thunberg, a heroína mirim da ONU. Como é admirável a Suécia!