Caros fiéis,
Neste momento de provação, que certamente é difícil para todos vocês, eu gostaria de aproveitar a oportunidade para lhes enviar algumas reflexões.
Não sabemos por quanto tempo a atual situação perdurará, nem, mais importante ainda, como as coisas vão se desenvolver ao longo das próximas semanas. Em face dessa incerteza, a tentação mais natural é a de, desesperadamente, buscar garantias e explicações nas declarações e hipóteses dos “experts”. Com frequência, porém, essas hipóteses – que abundam de todos os lados – contradizem-se umas às outras e aumentam a confusão ao invés de trazer alívio às pessoas. Sem sombra de dúvidas, a incerteza é uma parte essencial desse combate. Depende de nós saber como tirar vantagem dela.
Se a Providência permite que uma calamidade ou um mal aconteça, Ela sempre atinge seu objetivo de trazer um bem maior que, direta ou indiretamente, sempre diz respeito às nossas almas. Sem essa premissa essencial, corremos o risco de nos desesperar, porque uma epidemia, uma calamidade ou qualquer outra provação sempre vai nos atingir despreparados.
Neste ponto, o que Deus quer que entendamos? O que Ele espera de nós ao longo dessa Quaresma muito única, na qual parece que Ele já decidiu quais sacrifícios devemos fazer?
Um simples microrganismo é capaz de deixar a humanidade de joelhos. Na era de grandes avanços tecnológicos e científicos, é, acima de tudo, o orgulho humano que é deixado de joelhos. O homem moderno, tão orgulhoso de suas façanhas, que instala cabos de fibra óptica no fundo do oceano, que constrói porta-aviões, usinas nucleares arranha-céus e computadores e que, depois de por os pés na lua, continua na sua conquista de Marte, esse homem está indefeso diante de um micróbio invisível. O tumulto da mídia nestes dias e nosso medo não podem nos impedir de compreender essa profunda lição muito fácil de se entender. É uma lição para corações puros e simples, que são capazes de enfrentar os tempos presentes com fé. A Providência ainda nos ensina através de fatos mesmo nos nossos dias. A humanidade – e cada um de nós – recebeu essa oportunidade histórica de retornar à realidade, ao que é real, e não a uma realidade virtual feita de sonhos, mitos e ilusões.
Traduzida para linguagem bíblica, essa mensagem corresponde às palavras de Jesus que nos pede que permaneçamos unidos a Ele o mais próximo possível, porque, sem Ele, não podemos fazer nada, nem resolver qualquer problema (cf. Jo 15, 5). Nestes tempos de incerteza, a espera de uma solução e o sentimento de impotência e a nossa fragilidade devem nos motivar a buscar Nosso Senhor, a pedir-Lhe, a pedir perdão, a rezar a Ele com mais fervor e, acima de tudo, a abandonar-nos à Sua Providência.
Acrescido a isso está a dificuldade ou mesmo a impossibilidade de comparecer livremente à Santa Missa, o que aumenta a dureza desse calvário. Mas temos em nossas mãos um meio privilegiado e uma arma mais poderosa que a ansiedade, a incerteza ou o pânico que a crise do coronavírus pode causar: estamos falando do Santo Rosário, que nos conecta à Virgem Maria e a o Céu.
Agora não é o momento de deixar o mundo penetrar em nossas casas, justo agora que as circunstâncias e medidas das autoridades nos separam do mundo! Tiremos vantagem da situação. E não nos esqueçamos de rezar por aqueles que estão sofrendo nesse tempo. Devemos incluir em nossas orações a Nosso Senhor todos aqueles para os quais o dia do julgamento se aproxima, e pedir-Lhe que tenha misericórdia de tantos dos nossos contemporâneos que estão incapacitados de tirar lições proveitosas para suas almas diante dos fatos atuais. Rezem para que, uma vez que a provação tenha sido superada, eles não retomem suas vidas como antes, sem mudar nada. Epidemias sempre serviram para trazer tíbios à prática religiosa, a pensar em Deus, a odiar o pecado. Nós temos a obrigação de pedir essa graça para cada um de nossos irmãos, sem exceção, incluindo – e acima de todos – os Pastores que perderam o espírito de fé e que não conseguem mais discernir a vontade de Deus.
Não desanimemos: Deus jamais nos abandonará. Meditemos, cheios de confiança, nas palavras que Nossa Santa Mãe, a Igreja, põe nos lábios do Padre durante o tempo de epidemia: “Ó Deus, que não desejais a morte, mas a conversão dos pecadores, voltai Vossa benevolência a Vosso povo, que volta a Vós, e, voltados que estão a Vós, livrai-nos, com misericórdia, dos flagelos de Vossa ira”
Estou rezando por todos vocês no altar e coloco todos sobre a proteção de São José. Deus os abençoe!
Pe. Davide Pagliarani