Coronavírus: entre o medo e a audácia

Mais uma vez me vejo na obrigação de esclarecer nossa posição católica, diante de crises que se abatem sobre a nossa sociedade. Nosso mundo anda mergulhado no que lhe parece ser um grande sol a iluminá-lo, quando na verdade é apenas uma escravidão consentida e desejada. Sim, os tecnológicos homens desse mundo pós-moderno sabem, percebem sua incapacidade de fugir da compulsão das redes sociais, das massificantes notícias e informações, e sobretudo da sensação que tomou conta de todos, de serem livres como um passarinho a voejar entre galhos de árvores e fios elétricos. 

Poderíamos perguntar a nós mesmos o porquê dessa doença; creio que responderia que o homem busca companhia. Até certo ponto, convenhamos, essa busca é natural, visto a definição mais do que antiga feita pelo Filósofo, segundo a qual o homem é um animal político: vive na companhia dos seus semelhantes. Ora, como o mundo moderno desenhou no pé da mesa do computador (eu sei, eu sei, já não é mais no computador, é deitado na cama ou no sofá com o celular nos dedos, mas não atrapalhem, por favor, a minha história!)… então, retomemos: como o mundo moderno desenhou no pé da cama, ou da mesa, uma bola de ferro virtual, e disse ao ser debruçado na máquina: – veja, caro amigo, esta é uma bola de ferro virtual, nada mais “real” do que o virtual. Portanto, você está preso, velho escravo. Não se mexa, não saia daí.

Como sói acontecer, o homem moderno nem escutou o que o mundo lhe disse, do mesmo modo que não escuta o pai, ou a esposa, a lhe dizer que o jantar está na mesa, ou que o filho caiu do telhado e quebrou a perna. Embasbacado estava diante do altar da nova religião… embasbacado continuou. Essa falta de reação é a prova da aceitação tácita da escravidão. 

Foi ele assim pilhado, surpreendido, acuado pelas alarmantes notícias que chegavam do outro lado do mundo, da China cheia de histórias, de civilizações pagãs, de comunismos modernos. A China do mercado, do chinguilingue, dos automóveis incrivelmente mal fabricados. Diriam as más línguas que o escravo das redes sociais chegou a experimentar certa dose de satisfação por ter sido o primeiro a ler a notícia sobre um estranho vírus coroado que teria ultrapassado as milenares muralhas. Enquanto as notícias, procuradas agora com ânsia em todos os sites, comentadas alegremente com seus parceiros de escravidão, falavam da China ou da Itália, continuava o alegre escravo a comer sua pizza de entrega super rápida, por esses mágicos aplicativos que trazem a gordura do queijo aos beiços famintos do escravo, o qual insiste em se achar a mais livre das criaturas. Nunca o mundo conheceu mais perfeita escravidão. Pobre gente. 

Eis que o improvável aconteceu: o vírus virtual chegou ao Brasil, e o escravo teve medo de ser ele real. Grudado que estava nas ondas virtuais, colou-se ainda mais forte ao que lhe parecia ser a vida. Abraçou seu celular, beijou-o com carinho: “meu Salvador, só vós podeis, nessa hora de angústias, me fazer companhia, me livrar desse bicho mau”!

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