Pois esta última semana os grandes sites de notícia publicaram com certo destaque a inusitada relação entre um certo mamífero asiático, que estaria em vias de extinção, e o surto do novo coronavírus na China.
Depois das sopas de morcegos e das cobras do mercado de Wuhan se tornarem objeto de debate como a suposta origem zoonótica da virose, eis que passa a encabeçar a lista de suspeitos um mamífero de língua viscosa e comprida, comedor de formigas como o tamanduá; coberto de escamas e que se enrola como o tatu-bola; saltitante e arborícola como o esquilo; e que atende pelo curioso nome de pangolim.
E tem gente que come.
Quem nos lê há algum tempo deve se lembrar de um post do início de ano passado em que descrevíamos a capa da revista ‘The Economist’ para o ano de 2019. Interessante lembrar que entre as figuras desenhadas à la Da Vinci no frontispício da publicação, ali sobre o norte da América do Sul estava o simpático bichinho asiático. Supomos tratar-se de uma alusão à ecologia, ou mesmo ao tráfico de animais. Será que nos enganamos?
Coincidência ou não, em dezembro de 2019, portanto ainda dentro do escopo da ‘The Economist’, aparece no meio da China uma doença ainda pouco conhecida, de rápida difusão e que vem ganhando manchetes cada vez mais alarmantes nos meios de comunicação do mundo todo.
A infecção pelo novo coronavirus (2019-nCoV) pode evoluir da gripe comum para uma pneumonia potencialmente letal, lembrando casos recentes e relativamente preocupantes como o da gripe asiática de 2009 ou mais antigos e perturbadores como o da gripe espanhola de 1919.
Sendo assim, a suposta relação com o pangolim faz do animal um hospedeiro intermediário da doença, e o transforma de ameaçado de extinção em cúmplice de pandemia. Vale perguntar se os tais quatro cavaleiros do Apocalipse na tal capa de 2019 auguravam um cenário de uma iminente peste mundial.
Aliás, será que a capa de 2020 corrobora esse cenário? É o que veremos no próximo post.