Um triste regresso ao passado

País de fortes contrastes, recusa perene do termo médio, como no poema de Claudel, a Espanha se caracterizou ao longo de sua história por uma impetuoso e ardente catolicismo… ou um igualmente impetuoso e odioso ateísmo.

O governo do socialista Pedro Sanchez volta a carregar esse último prato da balança.

Em 2018, ao ser investido primeiro ministro, Sanchez recusou-se a cumprir a tradição de prestar juramento sobre a Bíblia e o crucifixo, preferindo fazê-lo sobre a Constituição; gesto final e simbólico de um comunista que chegava ao poder com um programa que rejeitava explicitamente a fé católica e a ordem natural ao propor a legalização da eutanásia, ampliação do aborto e, entre outras tantas medidas, até mesmo a desapropriação dos bens da Igreja.

No final do no passado, como já reportamos nesse boletim (aqui e aqui), o governo de Sanchez expulsou covardemente os religiosos da Abadia beneditina do Vale dos Caídos para em seguida invadir a clausura e exumar os restos mortais do Gal. Franco.

No início desse ano, após formar uma coalizão com demais partidos de esquerda, o governo declarou guerra às capelanias hospitalares, que ainda existiam como um resquício de tempos mais católicos. O líder da coalizão no poder, justificou-se dizendo que não cabe ao Estado financiar “vícios privados”.

O arcebispo de Valência e vice-presidente da Conferência dos Bispos da Espanha, cardeal Antonio Canizares Llovera, compreendeu o que está em curso e denunciou a coisa numa corajosa carta aberta aos fiéis em 11 de janeiro último: “O comunismo de essência marxista que parecia ter sido exterminado após a queda do Muro de Berlim das cinzas, e é ele quem certamente presidirá os destinos da Espanha “.

“Com muita dor, devo lhes dizer e advertir que percebi uma tentativa de fazer a Espanha deixar de ser Espanha.”, escreveu o arcebispo, preocupado com o considera o advento de um “pensamento único”, de natureza “absolutista” e “autoritária”, semelhante ao que resultou na ruína da Venezuela e outros países da America do Sul.

Infelizmente, a preocupação não é desprovida de fundamento. A Espanha parece retornar, pouco a pouco, aos dias mais anti-clericais da sua história.