Sentimentalismo cão

O Jardim do Eden, Jan Brueghel

No último dia 28, um cachorro de nome Manchinha foi morto cruelmente pelo segurança de uma rede de supermercados em Osasco – SP, gerando uma onda de protestos no país, uma comoção nas redes sociais, projetos de leis mais duras contra os maus-tratos aos animais e ameaças a funcionários do estabelecimento onde o delito aconteceu.

A espetacularização do caso é resultado da profusão de câmeras de segurança nas grande cidades associado aos smartphones nas mãos dos passantes, que documentam abusos, e abusam de documentar o que testemunham, sem atentar para a falta de educação ou a passividade a que se obrigam pelo ato de filmar: são capazes de deixar de salvar o afogado para melhor registrar o afogamento.

Disponibilizam para os grande meios de comunicação as indecências, crueldades e indiscrições que captam pelos aparelhos, por vezes em tempo real, e alucinam os consumidores com sentimentos confusos de comoção pelas vítimas  e de execração e perseguição aos verdugos da vez.

Quando um cão desperta uma plêiade de emoções e uma revolta eloquente, invertendo o senso das proporções, e indignando as pessoas em grau maior do que nos crimes contra a própria espécie – cada vez mais bárbaros e mais frequentes –  percebemos a profundeza do abismo moral em que mergulhamos.

Os animais, ensina o Magistério, foram criados por Deus para servir ao homem, que só pode se servir deles como instrumento do serviço de Deus. Em outras palavras, os animais, como os outros seres criados por Deus, existem em primeiro lugar para a glória de Deus, e em segundo lugar para o auxílio do homem na busca de seu fim, a salvação de sua alma.

Dom Lourenço costuma dizer que a glória da vaca é virar churrasco. De seu sangue serviram-se os sacerdotes do Antigo Testamento, do seu couro serviu-se São João Batista para sua túnica. Quantos cavalos não foram montados por santos? Se não fossem os peixes, como seria a história dos Apóstolos?

Não compete às leis proteger os bichos inventando um Direito Ambiental ou da Fauna e Flora. As leis seriam mais justas se se preocupassem com os direitos de Deus e nossos deveres para com Ele. Assim sendo, as negligências, abusos e maus-tratos perpetrados contra as Suas criaturas, mesmo de bichinhos abandonados como Manchinha, seriam elencadas no nosso código penal harmonizadas com os princípios de ordem e justiça, próprios do direito natural.

Esse sentimentalismo moderno faz amar as coisas desordenadamente e deve ser combatido. Qual espécie de comoção terá a mesma cidade de Osasco e o país quando lerem a noticia de hoje? Ninguém filmou as marretadas, não é mesmo?