No número 67 da Revista Civitas (Março de 2018), temos um interessante artigo de Louis Valette apresentando diversos dados sobre a quebra de vocações na Europa ocorrida depois do Concílio Vaticano II. Vale a pena reproduzir para os leitores deste Boletim alguns desses números:
Na coluna da esquerda, temos o total de religiosos não ordenados padres (Religieux non prêtres) e de religiosas (Religieuses) pelos idos de 1960 (vers 1960), na coluna da direita, temos os mesmos dados atualizados para o ano de 2015. É impressionante o que se vê: uma queda superior a 80% no clero regular em países como Alemanha, Bélgica e Holanda. A situação também é desastrosa na França (queda de 73%) e na outrora catolicíssima Irlanda (queda de 63%).
Os únicos países que apresentam um quadro ligeiramente melhor são aqueles da Europa Ocidental preservados por governos mais tradicionais durante a década de 60: Portugal e Espanha.
O gráfico abaixo, comparando o número de religiosos e religiosos contra uma amostra da população, ilustra o tamanho da derrocada:
Esses números apontam para uma clara mudança na tendência observada até o malsinado Concílio Vaticano II. Vejam como as vocações eram claramente crescentes durante os anos de 1955-1960 na Europa:
Vejamos agora o que ocorreu com o sacerdócio.
Assim como na primeira tabela, temos os dados para os anos 60 (Vers 1960) à esquerda, e de 2015 à direita. Desta vez, padres religiosos (Prêtres rel.) e padres diocesanos (Prêtres dioc). O resultado é assustador: na média, o total de padres na Europa Ocidental caiu 45% em meio século.
Destaca-se a Polônia, que além do aumento expressivo no número de sacerdotes, possui atualmente um governo pró-vida (desde 2005) e resolutamente pró-família (desde 2015): trata-se de um dos poucos países europeus que não cederam à ideologia homossexual. A Hungria de Victor Orban, contudo, apesar de seguir na política um itinerário semelhante ao vizinha Polônia, sofreu forte queda no sacerdócio (-59,8%). O aumento na Escandinávia é atribuído à imigração, por isso não é parâmetro.
No gráfico abaixo se vê com clareza a redução.
É interessante verificar que, como ocorria com respeito aos religiosos, era crescente o número de padres nos anos finais da década de 50:
Resta ver a evolução no número de ordenações ano a ano. É o quadro mais dramático de todos!
As primeiras colunas mostram a média anual de ordenações para os anos 1960 a 1990, em seguida, na coluna Année temos o último ano da amostra. É consternador! Na Irlanda, por exemplo, foram ordenados apenas 14 sacerdotes no ano de 2015, contra uma média de quase 300 algumas décadas atrás! Na França, a redução foi de 85%, na Alemanha foi de 88%!
Sinal dos tempos? Não! Efeito do Concílio. Louis Valette termina este importante estudo colocando, ao lado dos números catastróficos acima, a evolução das ordenações de padres tradicionais nos seminários da Fraternidade Sacerdotal São Pio X.
Ordenações anuais médias na FSSPX:
1972-1979 : 8,5 ordenações por ano
1980-1987 : 22,6 ordenações por ano
1988-1992 : 22 ordenações por ano
1993-1997 : 25,8 ordenações por ano
1998-2002 : 20,2 ordenações por ano
2003-2007 : 16 ordenações por ano
2008-2012 : 21,2 ordenações por ano
2013-2017 : 23,6 ordenações por ano
Ou seja, o ritmo manteve-se constante enquanto, em alguns países, a queda nas ordenações atingia mais de 80%! O número de padres tradicionais passou de 100 em 1981, de 200 em 1987, de 500 em 2009 e atingiu atualmente o número de 635.
Conclui o autor: “Em face destas cifras, é preciso concluir que um retorno à Missa de sempre e à doutrina tradicional contribuiria fortemente a resolver a crise das vocações”.