Bolívia: por Deus e pela Pátria

[Nota da Permanência: o texto seguinte foi originalmente publicado em FSSPX News]

Após a queda e a fuga do presidente da república boliviana, Evo Morales, uma católica de direita, Jeanine Añez, detém temporariamente as rédeas do estado, com a missão de pacificar um país arruinado por vários anos socialismo e de organizar novas eleições.

Depois de várias semanas do caos provocado pelas revelações de fraude maciça nas eleições presidenciais de 20 de outubro de 2019, o chefe de Estado fugiu em 11 de novembro para o México. Abandonado pelo Exército, o ditador que ocupava o poder desde 2006 denuncia agora “o golpe mais astuto e ousado da História”.

Por enquanto, Jeanine Añez, segunda vice-presidente do Senado, e católica de direita, atua como presidente da república após a renúncia do presidente e do vice-presidente, em conformidade com a constituição boliviana.

Esta advogada de 52 anos, opositora de Evo Morales, atravessou as portas do palácio presidencial no dia 12 de novembro, brandindo os quatro evangelhos e declarando perante a mídia: “Deus permitiu que a Bíblia voltasse ao palácio. Que Ele nos abençoe!” Não se trata de um gesto banal.

Por Deus e pela Pátria

De fato, Evo Morales pretendia fazer do país, na sua maioria católico, um estado socialista e secular. Para tanto, adotou uma nova constituição em 2009 e pôs fim ao juramento de autoridades e oficiais do governo, que anteriormente juravam sobre a Bíblia que haveriam de desempenhar seus deveres “por Deus e pela Pátria”.

Após a abolição do juramento, e sem jamais desviar-se do seu objetivo, o ex-presidente alegou que a Igreja na Bolívia era “a principal inimiga das reformas e transformações políticas”, chegando ao ponto de dizer que o catolicismo mantinha uma “mentalidade colonial”. Tratava-se de um artifício para exacerbar as tensões e dividir o povo, incitando os índios contra “a oligarquia branca e a herança colonial” que os marxistas querem associar ao catolicismo.

Catherine Delfour, acadêmica especializada em Bolívia, citada pelo jornal La Croix, explica que o gesto de Jeanine Añez constitui para a classe média boliviana “um símbolo de apaziguamento após dias de tensão, em que a polícia havia desaparecido das ruas (…) É um símbolo de unificação que clama pela conciliação nacional”.

A presidente anunciou em 17 de novembro que brevemente serão realizadas eleições livres. Enquanto isso, o presidente deposto ainda quer acreditar no fim do capitalismo. Desde seu exílio forçado, promete: “Voltarei em breve com mais força e energia”. Que ele conserte acima de tudo suas falhas e entenda que não há verdadeira harmonia sem o reino de Cristo e sua Igreja!