O fim do bolivarismo significa o fim do projeto da Pátria Grande que pensava unir a América espanhola à América portuguesa. Isto é, pensava unir uma dúzia de países que jamais se entenderam com o quarto maior país do mundo.
Não é só a língua que nos separa dos nossos vizinhos espanhóis, mas um sentido de unidade herdado dos portugueses que eles dão mostras de ainda não ser capazes sequer de entender, o que dirá de reproduzir.
O projeto de uma América do Sul virada de cabeça para baixo não tinha nem pé nem cabeça. Mas é um bom exemplo do profundo desprezo dos comunistas pela História que fingem cultuar como uma entidade sobrenatural. Ao subordinar a realidade a conceitos idealizados criam o paradoxo de um materialismo espectral, ironicamente já anunciado como tal logo nas primeiras linhas do Manifesto Comunista de 1848: “Um espectro ronda a Europa…” Sim, um espectro, essa coisa descarnada que não pertence à realidade dos vivos. O comunismo já nasceu morto e mais não tem feito senão espalhar a morte.
No caso das Américas portuguesa e espanhola, como deixou claro o Luiz Ramiro no post anterior, os comunistas ignoram o espírito de duas nações para privilegiar o fantasma da luta de classes. O Brasil herdou dos portugueses um senso de unidade consubstanciado numa língua que é um fenômeno único: nunca na história humana existiu uma território contínuo tão vasto em que se falasse só uma língua e apenas uma. Isso não é pouco. Não tomamos territórios de ninguém. Trouxemos uma língua – voluptuosa, complexa, caprichosa. O imenso Brasil espelha o pequenino Portugal, a mais antiga nação européia, um exemplo de unidade em um continente cravejado de federações que passam por países. A Espanha é só um exemplo, talvez o mais veemente.
É o que a Espanha é: uma federação. Uma federação de nações que ainda hoje relutam em se entender. Como os países da América espanhola.
Enfim, a América espanhola é nossa vizinha, mas nossa vocação é atlântica. Somos o país com a maior costa contínua e dominamos o Atlântico Sul. Os povos que nos formaram ou são nativos ou vieram da Europa atlântica ou da África atlântica. Raízes oceânicas, por assim dizer. Um patrimônio que mal começamos a conhecer e explorar. Portugal, Angola e Brasil formam no mapa um triângulo a sinalizar nosso destino mais genuíno. Não se trata de desfazer os laços construídos com nossos vizinhos, mas de dar a eles o seu devido valor histórico e mesmo espiritual, para além da inegável sinergia econômica que nos une.
Livres de mais uma ilusão comunista, está na hora de nos voltarmos para o Atlântico.