Num post mais ou menos recente, contamos a história da Consagração do Gênero Humano ao Sagrado Coração de Jesus, promovida por Leão XIII no final de sua vida, e arriscamos dizer que as promessas que a Irmã Maria do Divino Coração ouvira de Nosso Senhor foram realizadas no Pontificado seguinte:
“Bispos e padres tornar-se-ão mais fervorosos, os justos mais perfeitos, os pecadores se converterão, os heréticos e cismáticos retornarão a Igreja. E as crianças ainda não nascidas, os pagãos receberão a graça mais rapidamente”
Quando consideramos o glorioso pontificado de São Pio X, não podemos deixar de pensar que ele guarda alguma relação com a Consagração acima descrita. Não tanto por ser ele um “papa segundo o coração de Jesus” — é digno de nota que no seu túmulo tenha sido colocada uma placa com os dizeres “Pius X, mitis et humilis corde” — mas justamente por ter sido seguida pela eleição de um dos maiores papas da Igreja.
Vêm de longe a fama da sua santidade.
Já quando Vigário na cidade de Tombolo, o pároco escrevia admirado sobre ele: “Trata-se de um santo, alguém destinado aos mais altos lugares da Igreja”. Quando se torna Pároco, na cidade de Salzano, a fama de santidade se espalha por todos os fiéis, que o apelidavam de “Giuseppe SANTO”. Ele não gostava e corrigia: “Não é Santo, é Sarto”, mas já nessa época surgem os primeiros rumores de milagres. Quando Cônego em Treviso e diretor espiritual do seminário, sua fama de santidade espalha-se rapidamente entre os padres. Sagrado Bispo, assume a diocese de Mantua e novos rumores de milagres se propagam.
São Pio X era um grande taumaturgo. No dia mesmo da sua eleição ao sólio pontifício, um milagre se produziu. O novo papa desejou visitar o arcebispo de Valencia, um octogenário que viera a Roma para o Conclave, mas que agonizava no leito após contrair uma doença fatal. Ao perceber a presença do pontífice, pediu-lhe uma benção e, ao mero contato das mãos do papa, o moribundo reanimou-se, a ponto de logo poder se levantar e retornar à Espanha. Tornado a vida — dizia ele — por uma benção de Pio X.
Casos como este se multiplicaram ao longo dos onze anos do seu pontificado. Um bispo brasileiro — cujo nome o biógrafo Dal Gal infelizmente não diz — partiu para Roma para implorar ao pontífice a cura da sua mãe, que estava com lepra. Ao se encontrar com Pio X, insistiu vivamente para que rogasse por ela. O papa recomendou-lhe que recorresse ao invés a Nossa Senhora ou a algum santo, mas o bispo não abria mão:
— Santo Padre, digne-se ao menos repetir as palavras de Nosso Senhor: Volo mundare.
Encontramos essas palavras no Evangelho de São Mateus. Jesus descera do monte e, ao seu encontro, veio um leproso dizendo: “Senhor, se tu queres, podes limpar-me”. Jesus respondeu dizendo Volo, mundare (“Quero, sê limpo”).
— Volo, mundare. Respondeu São Pio X.
O bispo regressou contente para o Brasil. Ao chegar, encontrou sua mãe perfeitamente curada.
Curas milagrosas eram abundantes. Uma vez, uma menina irlandesa, padecendo de terríveis ferimentos na cabeça, ao ponto de ter de andar cheia de ataduras, pediu à mãe que a levasse para encontrar-se com o Papa. A mãe hesitava, mas a menina demonstrava lógica: “Se os Apóstolos faziam milagres, muito mais fará o Papa, que é o Vigário de Cristo”.
“Não sei se é assim, filha”, dizia decerto a mãe, mas partiu mesmo assim para Roma. O Papa pousou suas mãos sobre a cabeça da criança e ela, tomada de emoção, exclamou convicta: “Mamãe, estou boa!” Ao retornarem ao hotel, tiraram os curativos, e já não havia traço de feridas.
Outra vez, foi um senhor que perdera havia muito os movimentos do braço direito. Desesperando dos médicos, que não conseguiram curá-lo, decidiu recorrer ao pontífice. Ao vê-lo, o pobre homem mostrou seu braço inerte e implorou: “Santo Padre, curai-me para que eu possa ganhar o pão da minha família”.
— Vá, tenha Fé em Deus, respondeu-lhe o Pontífice. Tocando-lhe o braço, tornou-lhe a repetir: Vá, tenha Fé, o Senhor te curará.
Neste exato instante o braço recobrou as forças, o homem conseguiu movê-lo, e gritou comovido:
— Santo Padre! Santo Padre!
Mas o Papa limitou-se a fazer um sinal para que se calasse.
Sua principal obra, contudo, foi o pontificado. Escreveu um comentarista: “Este papa fez mais pela reforma interior da Igreja que todos os seus predecessores, sem excetuar Pio IX”.
Sim, dotado de uma força sobre-humana e de uma coragem a toda prova, São Pio X imitou São Gregório VII ao resistir aos poderosos do dia e frustrar a astúcia dos inimigos da Igreja; com a sua Pascendi igualou-se a Pio IX na defesa da Sã Doutrina; partilhou a glória de S. Pio V reformando o breviário, restaurando o catecismo e promovendo a eucaristia; ombreou-se a São Gregório Magno ao restaurar o canto sagrado. E como dele escreveu Bento XV, “seu nome passará para a posteridade ao lado dos Pontífices de maior fama nos anais do Direito Canônico: Inocêncio III, Honório III e Gregório IX”. Em suma, foi o homem providencial de que o mundo tanto precisava, verdadeiro farol dado por Deus este tempo de confusão.
Porém, já no seu tempo e sobretudo agora, depois da desordem conciliar, podemos gemer com o Evangelista: “Mundus eum non cognovit”.