O texto abaixo foi publicado no dia 29 de junho de 2019. Infelizmente não foi possível mudar uma linha sequer.
O “Instrumentum Laboris” (‘Rancoris’ seria o termo apropriado) do próximo Sínodo Pan-amazônico, publicado este mês pelo Vaticano, é mais uma prova da apostasia epidêmica do clero oficial.
A propalada preocupação com o ‘povo de Deus’ que habita a selva amazônica, não esconde o desprezo pela fé e doutrina católicas por seus entusiasmados promotores.
Não perderemos tempo aqui demonstrando todos os erros e abusos presentes no documento. Quantos sites não já o fizeram? Não nos iludimos tampouco com a pretensa diferença entre Francisco e os outros papas desde João XXIII. Diferença de grau, não de espécie: modernistas tout court.
Mas queremos sucintamente salientar dois pontos. Tão somente dois.
Primeiro: o ataque frontal ao sacerdócio.
A irreverência com que propõem admitir o que chamam de viri probati ao sacramento da ordem demonstra uma estratégia de muito conhecida dos estudiosos. Trata-se de admitir uma exceção aplicável a um lugar específico, em uma época específica, e, depois, criar, a partir da exceção, uma casuística e uma jurisprudência que a tornem replicável em outras (quando não, em quaisquer) circunstâncias, locais e épocas.
Tal ignomínia é similar à proposta de admissão à comunhão de divorciados ‘recasados’ pela exortação Amoris Laetitia. Nada mais infame. Primeiro quebram o vínculo matrimonial, depois o celibato clerical, tudo em nome de laetitia – a “alegria”. Há que se perguntar: de quem?
A pauta ainda tem espaço para o papel da mulher (p.129c). Seria o momento para a criação do diaconato feminino? As coroinhas, acólitas e ministras da eucaristia ganhariam a “ilustre” companhia das diaconisas, seguindo um caminho já traçado pelos hereges (evangélicos e protestantes), para um dia, quem sabe, alcançarem postos mais altos, como sacerdotisas, bispas, etc.
Segundo: abandono do evangelho e substituição pelo paganismo indígena.
Logo no início do documento, em seu parágrafo quarto, já se vislumbram as intenções dos autores. Vejamos:
“O Instrumentum Laboris consta de três partes: a primeira, o ver-escutar, se intitula A voz da Amazônia, e tem a finalidade de apresentar a realidade do território e de seus povos. Na segunda parte, Ecologia integral: o clamor da terra e dos pobres, aborda-se a problemática ecológica e pastoral; e na terceira parte, Igreja profética na Amazônia: desafios e esperanças, a problemática eclesiológica e pastoral.”
O parágrafo nada mais é que um conjunto de palavras vazias que tentam evocar sentimentos confusos em relação à Amazônia, que, por sua vez, “clama por uma resposta concreta e reconciliadora” (p.3).
Seguem-se inúmeras sugestões, absurdas e risíveis – mas nem por isso menos preocupantes – como uma “conversão ecológica”, seja lá o que isso queira dizer… Lê-se também que é preciso “recuperar mitos e atualizar ritos e celebrações comunitárias que contribuam significativamente para o processo de conversão ecológica” (p.104i).
Há parágrafos certamente mais blasfemos que outros. O de número 121 é um monumento: trata da inculturação do evangelho (grifos meus): “É preciso captar aquilo que o Espírito do Senhor ensinou a estes povos ao longo dos séculos: a fé no Deus Pai-Mãe Criador, o sentido de comunhão e a harmonia com a terra, o sentido de solidariedade para com seus companheiros, o projeto do ‘bem viver’, a sabedoria de civilizações milenares que os anciãos possuem e que influi sobre a saúde, a convivência, a educação, o cultivo da terra, a relação viva com a natureza e a ‘Mãe Terra’, a capacidade de resistência e resiliência, em particular das mulheres, os ritos e as expressões religiosas, as relações com os antepassados, a atitude contemplativa e o sentido de gratuidade, de celebração e de festa, e o sentido sagrado do território.”
Não, senhores. O Espírito do Senhor não ensinou a esses povos os sacrifícios humanos, o despudor e a antropofagia, para citar apenas alguns ritos e expressões culturais que praticavam antes da vinda providencial dos católicos europeus de Portugal e Espanha, que lhes trouxeram a civilização e a Fé.
Quanta insolência… Valei-me, Frei Sardinha! Protegei-nos, Nossa Senhora de Guadalupe!
Publicamos no site da Permanência um artigo de Matteo D’Amico que merece ser lido com atenção.