Há dias, o presidente anunciou que indicaria para o STF e para o Ancine alguém “terrivelmamente evangélico”. Agora, no fim de semana, aparece numa foto de joelhos diante do sr. Edir Macedo.
A foto é bizarra: o presidente parece estar sendo coroado por Macedo com uma coroa pequena demais para a sua cabeça, o que obriga Macedo a um esforço tremendo. Ao lado, um outro senhor se apresenta como sério concorrente ao prêmio de melhor coadjuvante, porque parece fazer o que é próprio dos coadjuvantes: torce. Mas torce com um fervor profissional irretocável.
A esse espetáculo chamam “unção”. Que seja: depois que um sujeito se auto-proclama bispo, tudo lhe é possível ainda que só a ele convenha admiti-lo. Mas pelo esforço que fazem Macedo e seu coadjuvante, a coroa imaginária parece não ter sido untada direito.
Talvez nem o próprio presidente saiba qual é a sua religião. Já se disse “cristão”. Terá se convertido ao macedismo? Não vale esquecer que há alguns anos, num vídeo que viralizou, Macedo defendeu o aborto como solução para a infância pobre: antes morrer que nascer pobre, era essa a lógica. Nada muito católico (uma vez que a palavra “cristão” no Brasil tornou-se ambígua demais para definir alguma coisa).
E aí, cabe a pergunta: onde estão os católicos do governo? O presidente foi eleito com o apoio dos católicos, especialmente aqueles que se definem como “católicos conservadores”, isto é, críticos ma non troppo da Igreja pós-conciliar. Nesse grupo há de tudo um pouco o que os obriga a uma espécie de teologia dos likes. Na falta do que conservar, os conservadores tratam de conservar a si mesmos.
Talvez por isso não tenham dito muita coisa até agora: uns seguem mudos e outros tecem elaboradas justificativas, talvez à espera de uns cargos para os “terrivelmente” católicos.