Uma boa frase vale mais do que mil palavras.
A história a seguir é a versão editada de uma das que foram publicadas na última edição da Revista Permanência. Todas têm por protagonista Katharina Tangari, uma dessas personagens anônimas e santas que em segredo aplacam a ira de Deus contra infâmia do mundo.
A história, belíssima, vale ser lida integralmente. Mas a conclusão que Katharina tira dela deveria vir escrita no coração de todos:
Pouco importa o que pedimos, contanto que o peçamos com grande simplicidade.
Em busca dum auxílio especial numa situação difícil, planejei uma peregrinação ao santuário da Madona do Rosário de Pompeia. (…) Visitei essa amiga para pedir os conselhos necessários à peregrinação (…). Para minha surpresa, ela ofereceu com muita candura a sua companhia (…) Escolhêramos partir no primeiro sábado do mês do Rosário, dia 1º de outubro de 1949.
Durante a peregrinação aconteceu um estranho episódio que me aproximou ainda mais do Padre Pio. Fazíamos já dez horas de estrada quando, ao atravessar por San Giovanni de Teduccio, um rapazinho veio por trás de nós e, falando comigo, mostrou-me um livreto de orações com a estampa da Madona de Pompeia. Pressuroso, perguntou-me o rapaz: “As senhoras não perderam isto?” e, após dar-me o livro, desapareceu.
Esse livrinho era o da Novena de agradecimento à Madona de Pompeia, que eu levara na intenção de recitá-la ao final da peregrinação. Guardara-o numa bolsinha de couro que estava costurada dentro do bolso do casaco. Junto à novena havia o dinheiro para a viagem de volta — no total, três mil liras — um vale de dezesseis mil liras, a fotografia do meu marido e uma do Padre Pio ofertada por uma irmã franciscana, uma imagem do Menino Jesus encontrada no livro de Del Fante, em que estava escrito: “Abençoada pelas mãos estigmatizadas do Padre Pio”.
Busquei no bolso do casaco a bolsinha de couro; ela estava no lugar mas aberta, e nela faltavam as fotografias e o vale, ao passo que as três mil liras para a volta estavam todas lá. (…) Foi nessa ocasião que pela primeira vez concentrei o pensamento em Padre Pio e lhe fiz uma oração. Repeti-lhe diversas vezes no íntimo: “Padre Pio, faça-me reencontrar em casa os objetos perdidos!” Realmente, naquele momento pensava que os esquecera em casa e poderia reencontrá-los à volta. (…)
Durante o retorno, os objetos perdidos ainda eram assunto da nossa conversa, mas sem que lhes déssemos muita importância. Todavia, mal cheguei a casa, procurei-os em vão por todos os cantos. Veio-me o pensamento de que a única coisa que ainda poderia tentar era voltar à loja que me dera o vale de dezesseis mil liras.
Resolvi ir até lá naquela manhã, mas enquanto me preparava para sair escutei alguém bater à porta. Abri-a e vi três mulheres e um menino, que queriam falar comigo. (…) Reconheci que o menino era o rapazinho que me devolvera o livro da novena perdido no caminho: “Como as senhores conseguiram encontrar-me?”, lhes perguntei. “O monge! Este monge aqui”, replicou vivaz uma delas, colocando a fotografia do Padre Pio sobre a mesa.
E, ainda impressionada com o fato extraordinário que lhe sobreviera, ela me contou como tudo aconteceu: no sábado, cerca de meio-dia, seu filho Miguel, depois de brincar a manhã inteira na rua, retornou a casa e lá, sobre a mesa, construíra um pequenino altar. Ao centro pusera a imagem do Menino Jesus e de cada lado as duas fotografias; depois ornara o altarzinho com flores e duas velas.
Para acender as velas, o menino foi até a mãe que estava ocupada cozinhando ao fogão, e pedira “um pouco de fogo” lhe estendendo uma folhinha de papel enrolada. A mulher, ao pegar a folhinha e aproximá-la da chama do fogão, nela vira escrita uma cifra e, pensando que era um cheque bancário, decidiu guardá-la.
Como não soubesse ler nem escrever, foi à vizinha para que lhe dissesse do que se tratava. Respondeu-lhe a vizinha: “Vão dizer que você roubou: é um vale comercial, de 16.000 liras; jogue-o no fogo, se não, pode ter problemas!”
Já de novo em casa e meio preocupada, não sentiu coragem de queimar a folha: alguém lhe pareceu que a detinha. Passou-se o domingo, e veio a madrugada de segunda-feira, mas ela não conseguia dormir, pois de quando em vez lhe parecia ver o monge da fotografia que sempre repetia: “Vá à casa! Vá à casa!”
Perguntava entre si a que casa deveria ela ir e aborreceu-se com o monge que a não deixava em paz. Finalmente, em torno de 5 horas da manhã, levantou-se e mais uma vez foi bater à porta da vizinha, para se informar se o papel trazia endereço.
Informada do endereço da loja de Nápoles que emitira o vale, decidiu ir até lá. Para que não fosse só levou consigo o filho Miguel e pediu a companhia de duas colegas de trabalho — eram lavadeiras as três.
Não lhes foi fácil, pouco habituadas a Nápoles, encontrar a loja; entretanto, chegaram nela bem na abertura e apanharam meu endereço. (…) “E eis-nos aqui na casa como queria esse monge! — disse satisfeita a mamãe de Miguel — e eis tudo o que lhe pertence! Falta alguma coisa?” “Não — respondi comovida — não falta nada!”
Após a partida das mulheres, quase não acreditava que me houvessem restituído os objetozinhos perdidos na comprida estrada de Pompeia. A oração que, humanamente, me parecia absurda, foi atendida à risca! (…)
Entendi então, como nunca antes, que as vias da graça têm caminhos muito particulares: elas percorrem as veredas de Deus que não conhecem obstáculos nem impedimentos para que milagrosamente cheguem até nós. Entendi também que pouco importa o que pedimos, contanto que o peçamos com grande simplicidade.