“Donde se segue não só que o catolicismo é avesso às tiranias e às revoluções,
mas ainda que só ele as tem verdadeiramente negado” (Donoso Cortes)
Em maio do ano passado, os caminhoneiros pararam o país num violento protesto que, além de causar uma morte em Rondônia, onerou os cofres públicos em cerca de 15 bilhões de reais. Foram dias de caos: cidades decretaram estado de calamidade pública devido ao desabastecimento, aeroportos não funcionavam, escolas pararam e parte da população não conseguia trabalhar.
Numa espécie de loucura coletiva, no entanto, a causa dos caminhoneiros recebeu o apoio de parcela considerável da população — daqueles mesmos que sofriam as suas consequências. Desde os Estados Unidos, Olavo de Carvalho incitava o movimento fazendo as declarações mais irresponsáveis: todo o poder aos caminhoneiros, dizia ele, pregando abertamente a revolução. Um cego guiando cegos.
Desde o primeiro minuto, a Permanência desaprovou com veemência esses acontecimentos, como todo católico deveria fazer. Pois aprendemos dos papas que há não só um dever de obediência às autoridades legítimas, como sérias restrições às greves:
Pio IX condenou a proposição seguinte: “É lícito recusar obediência aos príncipes legítimos e mesmo se revoltar contra eles” (Syllabus, pro. 63)
Leão XIII: “… sacudir a obediência e revolucionar a sociedade por meio da sedição é um crime de lesa-majestade, não só humana, mas divina” (Immortale Dei)
Pio XI: “É proibida a greve; se as partes não podem chegar a um acordo, intervém a autoridade.” (Quadragésimo Anno)
Pio XII: “No domínio econômico, há uma comunhão de atividade e interesses entre os donos das empresas e os trabalhadores. Menosprezar este laço recíproco, trabalhar para destruí-lo, é tão somente o fato de uma pretensão de despotismo cego e irracional.” (Pio XII – Aos patrões, 7 de maio de 1949, Atos Pontif. No. 26, p. 21)
Esse ensinamento foi mantido mesmo no pós-Concílio. Ensinou o Papa João Paulo II: “O abuso da greve pode conduzir à paralisação da vida sócio-econômica; ora, isto é contrário às exigências do bem comum da sociedade, o qual também corresponde à natureza, entendida retamente, do mesmo trabalho” (Laborem exercens)
Há em certos casos um direito à resistência, como ensinou Santo Tomás em De Regno e, com ele, o Magistério da Igreja: foi, aliás, o que ocorreu gloriosamente na Cristiada mexicana ou na Vendéia contra a Revolução. Leão XIII é muito claro: “A única razão que os homens têm para não obedecer é quando algo demandado por eles repugna abertamente ao direito natural ou ao direito divino”. Ademais, além de uma causa justa é preciso haver uma reta intenção, entendendo-se por essa última a conformidade a justos limites.
Tudo isso faltou à agitação de maio de 2018: não havia “causa justa”, pois os caminhoneiros só estavam atrás do seu bem particular, queriam vantagens econômicas a serem necessariamente custeadas por nós, o restante da população. Tampouco havia “reta intenção”, pois jamais observaram limite algum nas suas demandas, a ponto de deixar o país inteiro refém da sua loucura.
Ora, são esses mesmos que tantos males causaram ao país que são hoje recompensados, um ano após os acontecimentos, pelo Sr. Presidente da República.
Digamos logo: foi um ato imbecil e covarde a intervenção do governo no reajuste dos preços do diesel, uma política desastrada, digna do PT, cujo mero anúncio já causou danos à economia.
Qual o próximo passo? Vai condecorar os caminhoneiros?
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Não devemos ser injustos, no entanto.
O governo Bolsonaro chegou aos 100 dias de governo e, todas as contas feitas, há mais acertos do que erros: envio da PEC da Reforma da Previdência, nomeação de técnicos para os ministérios, corte de 21.000 cargos comissionados, homeschooling, 23 leilões e concessões incluindo rodovias, ferrovias, aeroportos etc.
De modo geral, há razões para otimismo.
Recentemente, Jair Bolsonaro declarou que queria um pouco da “sabedoria de Salomão”. Esta poderá vir, Sr. Presidente. Basta livrar-se dos tolos, e voltar-se para o Senhor dos Exércitos.