É interessante pensar como as seis aparições da Senhora do Rosário em Fátima foram de certo modo preparadas pelos papas que imediatamente as precederam. Sim, sem jamais poder adivinhar o que sucederia em 1917, e inteiramente guiados pela Divina Providência, seus pontificados constituem como que um belíssimo preâmbulo à Fátima.
Pensemos no admirável Pio IX, ele mesmo nascido em um 13 de maio. Ele que será conhecido por todo o mundo como o “Papa da Imaculada”, pela proclamação do dogma da total isenção da mancha do pecado na Mãe do Salvador. Conta-se que, na solenidade, estavam presentes representantes de todo o mundo, exceto da Rússia. Como não ver aí um prenúncio dos erros que essa infeliz nação espalharia pelo mundo?
Pensemos em São Pio X. Ele que fixou a festa de Nossa Senhora do Rosário, que impediu a barca de Pedro de soçobrar nas vagas modernistas e conduziu as crianças, como diz a Ladainha, à Mesa do Senhor. “Haverá santos entre os pequenos”, dizia o papa. Como que para ratificar as palavras do pontífice, veio um anjo do Céu e deu a comunhão à três crianças: Francisco, Jacinta e Lúcia.
Dizia a Jacinta:
— No Céu não se comunga? Se lá se comungar, eu comungo todos os dias. Se o Anjo fosse ao hospital a levar-me outra vez a Sagrada Comunhão! Que contente que eu ficava!
Mas entre um e outro, está o grande Leão XIII, o Papa do Rosário.
Nenhum outro promoveu com maior empenho essa que é a “mais excelente forma de oração” (Diuturni Temporis). Ele acrescentou à Ladainha Lauretana a invocação à “Rainha do Santíssimo Rosário”; consagrou o mês de outubro a essa devoção; incentivou as Confrarias do Rosário, e dedicou à essa santa prática nada menos que onze encíclicas. Quem as lê, nota a viva alegria com que o pontífice as escrevia!
O Rosário, ensina o papa, reaviva a Fé, fomenta a piedade, estimula as boas obras e leva ajuda aos moribundos e aos mortos. É agradável à Virgem, eficaz para a defesa da Igreja, para a difusão do Reino de Cristo e para a reunificação da cristandade. Os que o rezam encontram o dom da paz doméstica, alcançam favores divinos, preservam-se da ignorância, e encontram auxílio na procura dos bens celestes.
No entanto, quem julgar que para Leão XIII o Rosário era assunto de interesse meramente pessoal se enganará: há também um aspecto social ou político nessa devoção. O papa associava-a nas suas Encíclicas às graves necessidades dos tempos modernos: “Bem vedes (…) as incessantes e graves lutas que trabalham a Igreja. Vedes que a moralidade pública e a própria fé (…) estão expostas a perigos sempre mais graves.” (Supremo Apostolatus Officio).
Leão XIII via o Rosário como um combate, recomendava-o como meio eficaz para a cura dos males do tempo, e para aplacar a Deus e movê-lo à compaixão. O Rosário de Nossa Senhora é, portanto, um meio privilegiado para o reerguimento das sociedades:
“E, verdadeiramente, só aqui está o segredo de harmonizar o tempo com a eternidade, a cidade terrena com a celeste, e de formar caracteres fortes e generosos. E se estes se tornarem numerosos, sem dúvida estará com isso consolidada a dignidade e a grandeza do Estado.” (Laetitiae Sanctae)
Inspirados na doutrina do pontífice, arriscamos dizer que os mistérios do Rosário respondem aos principais erros do tempo presente. Assim, ao espírito de insubordinação e de recusa ao humilde dever de estado — marca do liberalismo e ruína de tantas famílias — contrapõem-se os mistérios gozosos; à falta de espírito de sacrifício e mortificação — conseqüência do funesto erro do naturalismo — opõem-se os mistérios dolorosos; ao desprezo dos bens futuros — fundamento da utopia comunista e do desespero moderno — contrapõem-se os mistérios gloriosos. Por fim, as duas dezenas que concluem o Rosário nos falam daquela que destruiu “sozinha todas as heresias no mundo inteiro”.
Recorramos então ao Rosário, diariamente, piedosamente, sobretudo em tempos de apostasia, porque Nossa Senhora de Fátima o quer, e porque o papa explicou que onde essa prática vigorasse, a Fé não temeria os perigos da ignorância e dos erros (Magnae Dei Matris).