Jean-Pierre Dickès, ex-seminarista, é autor de diversos livros, presidente da Association catholique des Infirmières et Médecins e editor da revista de bioética Cahiers Saint Raphael. Além de um programa de rádio, o incansável Dickès tem uma coluna publicada na revista Fideliter, onde traz um compêndio de acontecimentos pouco divulgados, mas cheios de significado, ocorridos nos últimos 60 dias nos 5 continentes.
Apresentamos a seguir, para nossos leitores, um resumo dos mesmos:
Teatro no Carmelo
“É preciso ler e reler o Voix du Nord de 10 e 11 de novembro para crer”, diz Dickès. A denominação anglicana “ordenou” como sacerdotisa uma australiana, mãe de família. Não é novidade dentro da igreja dos ingleses, que desde 1994 “ordena” mulheres, e desde 2015 “sagra” episcopisas (mulheres-bispo, ‘bispas’ ou como quer que seja). O escandaloso é que o lugar escolhido para a pantomima, ocorrida pela primeira vez na França, foi… um convento carmelita.
O modo administrativo
O cardeal Maradiaga, arcebispo hondurenho, amigo e colaborador do papa, saiu em defesa de Dom Theodore McCarrick numa entrevista de 11 de setembro. Para Maradiaga, uma vez que os desvios sexuais do seu homólogo norte-americano são privados, o papa deveria responder ao caso apenas “de modo administrativo”. Ocorre que Bento XVI havia infligido sanções administrativas contra McCarrick, que Francisco cuidou de levantar. Há mais: favoreceu-o ao permitir que indicasse prelados ao cardinalato. “Com tudo isso”, afirma Dickès, “os católicos estão desorientados e as vítimas dos abusos também, pois, precisamente, ‘a administração’ não faz nada”.
Casamento express?
No dia 19 de setembro, na Casa Santa Marta, o papa recebeu Noelia Franco e Omar Caballero. O casal uruguaio vivia em união estável há vinte e quatro anos, e viajaram a Roma com seus cinco filhos. Depois de conceder nada menos que uma “absolvição coletiva” dos pecados, o papa abençoou a união do casal numa cerimônia que durou pouco mais de um minuto, mas com direito a certificado de casamento. Comenta Dickès: “Aparentemente, o papa não se preocupa com o Direito canônico e age como se fosse superior a todas as leis da Igreja. É o cúmulo”.
Lavagem cerebral
É muito grave a acusação feita pelo padre americano John Zuhlsdorf, muito popular na internet. Será verdade? Ele acusa bispos de enviarem os padres mais conservadores para clínicas psiquiátricas para se submeterem a uma “avaliação”. Ao cabo de três semanas, o “culpado” é reapresentado ao bispo. No entanto, em caso de reincidência, o expediente é renovado por mais três meses, o recalcitrante sendo privado de telefone e outros meios de contato com o exterior. Essas internações, segundo Dickès, ocorrem notadamente no Estado de Maryland, e a clínica em questão é o Saint Luke’s Institute.
A liberdade dos liberais
O caso ocorreu na Austria. Durante uma série de conferências sobre o Islã, a palestrante, após lembrar que Maomé casou-se com uma criança de seis anos, observou mais ou menos o seguinte: “Se isso não é pedofilia, o que é?” Seu objetivo era alertar contra a prática do casamento de menores no Islã, mas foi condenada pelas cortes austríacas pelo seu comentário. Recorreu à Corte européia que, claro, confirmou a decisão dos juízes austríacos. Aí está toda a tolerância e respeito pelas opiniões alheias dos defensores da liberdade de expressão.