Para não esquecer Vincent Lambert

O que é a alma? De que tamanho ela é? Elas crescem, diminuem? Florescem, secam, apodrecem? Quem pode dizer?

Podemos ver um corpo morrendo, definhando. Mas nada sabemos de sua alma. A teologia, a doutrina, o dogma afirmam sua existência, mas a fé de que esteja de fato lá – no corpo todo ou em nenhuma parte dele exatamente – é anterior às palavras.

Que íntimas epifanias e expiações aconteciam nessa espécie de coma em que mergulhou Lambert? Quem conhece a secreta economia desse silêncio incomunicável mas desperto? Quem pode traduzir as expressões do rosto, os esboços de sorriso, os olhares?

Qual o critério para definir se um homem merece continuar vivo? E ainda que se reduza a alma a um mero “princípio de vida” que não sobreviverá à morte física, quem pode dizer sem vacilação “agora chega”?

Li que Lambert, na primeira tentativa que fizeram de matá-lo de fome e sede, resistiu 30 ou 40 dias, não importa tanto precisar, uma vez que se trata de uma cifra espantosa. Por 30 e 40 dias, Lambert – como um náufrago – ou como Jesus – resistiu aos apelos da morte, agarrado à vida – agarrado à sua alma?

Como se pode dizer que uma alma esteja “ansiosa para partir”; ou se preferirem, que um “princípio de vida” não queira mais viver? E para que servem aquelas máquinas todas? Não foi para isso que foram inventadas, para sustentar a vida? Quem tem o direito então de desligá-las?

Enfim, quando o mataram, é possível que Vincent estivesse mais vivo do que todos ao seu redor.