É curiosa a situação do pontificado do Papa Francisco. Sendo o mais liberal de todos os papas pós Vaticano II, Francisco parece querer levar o liberalismo do Concílio ao seu grau máximo. Tanto por suas frases de efeito como pela prática de aceitar e elogiar pecadores públicos, e mesmo pelas liberdades que deu à Fraternidade São Pio X, Francisco parece não ter medida no seu plano de abrir tudo a todos.
Poderíamos denunciar os erros doutrinários e morais contidos em seus pronunciamentos ou em seus documentos, mas estamos diante de uma situação nova, ao vermos cardeais e bispos do clero oficial atacarem o papa com acusações por vezes mais salgadas e agressivas do que tudo o que a Fraternidade São Pio X já publicou contra os papas do Vaticano II.
Pela primeira vez em 50 anos vemos textos, conferências, livros sendo publicados contra os excessos doutrinários do atual papa. Poderíamos pensar que essa situação é altamente favorável à Tradição, pois poderia significar uma aproximação desses bispos da Tradição, mas a realidade é outra.
Qual é o objeto da reclamação dos bispos contra o papa? O que eles pretendem é que Francisco se mantenha nos termos estipulados pelo Concílio Vaticano II, o que é inadmissível para nós, pois são esses textos do Concílio que se afastaram da fé católica a ponto de não se encontrar mais, no mundo atual, quem de fato creia em tudo o que Deus nos revelou e nos ensina a Igreja.
Um exemplo claro disso foi o embate entre conservadores e liberais durante os dois anos do Sínodo sobre a família. O texto inicial pedia a comunhão de divorciados e homossexuais, e logo os conservadores se levantaram clamando pelo que eles chamavam de “doutrina tradicional”. Ora, Vaticano II inverteu os fins do Matrimônio, deixando de lado a procriação, e modificou o fim secundário da ajuda mútua no que eles chamam hoje de “sociedade de amor”. Esse casamento feito de amor sentimental, quando não carnal, onde ter filhos ou não ter seria uma opção do casal, não é o Matrimônio católico sempre ensinado pela Igreja.
O resultado desses 50 anos de falsificação da família é o que vemos hoje, a destruição quase completa da noção natural de família. É a esta falsificação que os bispos conservadores querem defender ao exigirem de Francisco que mantenha a doutrina do Vaticano II.
O verdadeiro retorno deve ser para a doutrina tradicional da Igreja de sempre, que no caso do Matrimônio e da família, está magistralmente assentada na encíclica Casti Conubii, do papa Pio XI, de 31 de dezembro de 1930. (cf. https://permanencia.org.br/drupal/node/5376)
Em vez de lutarem pela Tradição católica, os bispos se contentaram em lutar por um texto sinodal menos agressivo, e chegaram onde, de fato, os mais afoitos queriam que chegassem: a um texto dúbio, facilmente interpretado por conservadores e por progressistas ao seu bel prazer, e às portas abertas para que cada padre faça o que bem entende na distribuição da comunhão a casais de divorciados.
O Sínodo da Amazônia
Vemos tudo recomeçar com o futuro Sínodo da Amazônia. O texto inicial da CNBB é todo marcado pela teologia da libertação. Agride, força, leva aos extremos a análise da situação, para concluir: “Junto aos povos do nosso Regional, sonhamos com uma Igreja ousada, dialogal, inclusiva, pobre, solidária, mística, em saída.” (Carta da Assembleia Pré-Sinodal – dez 2018)
Mais adiante mostra seu objetivo: “Uma Igreja que insiste na ministerialidade, com os ministérios existentes, promovendo o diaconato permanente e diaconisas, o ministério da presidência eucarística, para homens e mulheres, e os ministérios a partir das culturas locais.”
Em outras palavras, querem promover o sacerdócio das mulheres, mas vão se contentar com diaconisas, para uma primeira etapa.
A Outra, essa igreja deformada de Vaticano II, segue seu caminho de heresia. Mas mesmo para ela está chegando o tempo da velhice, da caduquice que atinge tudo que é formado pelo pecado.